São Paulo – O compromisso dos bancos rumo à agenda ESG vai muito além de zerar suas próprias emissões: está atrelado ao crédito. Embora a atividade das instituições financeiras também polua, não se compara à de grandes indústrias, mas a responsabilidade de conscientização dos clientes é inerente ao papel dessas companhias. Foi o que afirmou Luciana Nicola, superintendente de sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú, durante apresentação no primeiro dia do Seminário Brasil Elétrico+ESG, realizado de forma online pela AutoData Editora até quarta-feira, dia 15.
“Redução das emissões é compromisso de todos. O banco não será net zero se seu cliente não for. E descobrir como conscientizar quem consumirá o produto ou serviço faz parte desse processo”, avaliou a executiva. “Nosso objetivo também é ajudar as empresas a desenharem plano concreto para promover a transição ao net zero. Até porque se não houver a adoção de medidas dedicadas à descarbonização, o risco do crédito e da própria operação é muito maior.”
Nicola contou que no caso do Itaú o consumo de energia já deriva de fonte 100% limpa. E que a empresa aposta em iniciativas que envolvam também a população em geral, caso do VEC, Veículo Elétrico Compartilhado, que é uma extensão do projeto das bicicletas elétricas, e funciona com a distribuição de modelos em estações situadas em localidades de fácil acesso. Ela ponderou que carros elétricos no Brasil são caros, inacessíveis para a maior parte da população, mas que o VEC pode colaborar para que se tenha essa experiência e que se contribua com a descarbonização. Facilitar a aquisição de veículos elétricos usados a taxas competitivas também faz parte de planos do banco.
Para a Luciana Nicola é preciso olhar para todo esse processo como uma grande oportunidade. Ela propõe que, hoje, a agenda ESG não se refira apenas ao ambiental, social e governança, mas também ao climático, sendo olhado de forma desatrelada. Com a divulgação de relatório do IPCC apontando para o avanço acelerado do aquecimento global essa agenda será cada vez mais debatida, puxada pelo setor privado.
Ela contextualizou que até o ano passado o Brasil aguardava a Europa tomar alguma decisão para só então ver como tropicalizar suas iniciativas, mas hoje não é mais assim. “Há 95 bancos centrais em todo o mundo realizando discussões online, o que torna a velocidade das ações mais tempestivas. Infelizmente o prazo está dado. Por um lado é bom porque se tem uma linha do tempo, mas, por outro, é preciso correr contra esse tempo. A proposta de redução das emissões em 50% até 2030 e de net zero até 2050 não parece muito viável no cenário atual. E não dá para pensar que a mudança virá só do privado”.
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