São Paulo – Para montadoras premium, como Audi e BMW, pioneiras na inserção da tecnologia no País, é consenso que o veículo elétrico já é realidade e que a modalidade veio para ficar. Seu segmento, em que o público está mais preocupado com conforto, desempenho e sustentabilidade, e para o qual, portanto, o preço não é exatamente uma questão, a adesão é crescente. Diante do cenário as duas companhias não descartam produzir modelos elétricos no Brasil, mas, para isso, é preciso que incentivos sejam mantidos e, a infraestrutura, ampliada, a fim de que se tenha mais previsibilidade que justifique a decisão.
Em painel durante o último dia do Seminário Brasil Elétrico+ESG, realizado de forma online pela AutoData Editora de 13 a 15 de setembro, os presidentes da Audi, Johannes Roscheck, e da BMW, Aksel Krieger, consideraram que, antes dar esse passo, o processo passa pela ampliação das vendas no País. No caso da BMW houve crescimento de 1 000% no volume de elétricos e híbridos de 2019 para cá, o que representa 20% dos emplacamentos. A intenção é, em 2023, que 90% de seu line up tenha ao menos um veículo elétrico e, em 2030, 100%.
A Audi lançou em 2020 família 100% eletrificada no País e se surpreendeu quando, no fim do ano, já não havia mais unidades disponíveis. A partir de 2026 todos os seus lançamentos serão elétricos.
Apesar de animado com a recepção dos modelos por parte da elite brasileira Roscheck ponderou que o carro elétrico tem um custo de 10% a 20% acima de um veículo dotado de motor movido a combustão interna. E que a eletrificação dos mercados funciona em locais em que o governo dá incentivo a essa transição: “Aqui no Brasil vemos incentivo na importação dos modelos, pois a taxa é zerada, em alguns estados o IPVA é reduzido e carros elétricos e híbridos não precisam cumprir o rodízio, benefícios muito importantes que precisam ser mantidos pelo menos por mais dois ou três anos para aumentar a frota".
O executivo da Audi considerou esse tempo porque calcula que em até cinco anos o modelo atinja custo neutro comparado com veículo a combustão e, então, será possível ampliar sua oferta e avaliar a produção local. O custo da bateria também ainda é entrave para a decisão.
O presidente da BMW afirmou, porém, que com a demanda crescente a possibilidade é estudada: “Hoje 80% das vendas dos nossos veículos são feitas no Brasil. Temos o sonho de produzi-los em Araquari”.
Com relação à recarga da bateria, tema que ainda assusta entusiastas do elétrico, Krieger esclareceu que 80% dos carregamentos são feitos à noite, na casa dos clientes. E que condomínios antenados à questão têm criado sistema de cartão para que a pessoa carregue e pague pela energia consumida enquanto que, outros, já conectam o consumo ao medidor individualizado de eletricidade para que o valor se some à conta do apartamento: “É preciso desmistificar o carregamento, como fazemos com o celular quando chegamos em casa. Boa parte de novos empreendimentos já estão prevendo ponto de recarga”.
Roscheck complementou que, para rodar cerca de 50 quilômetros por dia, uma carga a cada três ou quatro dias é suficiente. E que como pontos públicos, como shoppings de capitais como São Paulo e Rio de Janeiro dispõem de carregamento gratuito, o usuário também pode aproveitar a vantagem caso more em um prédio mais antigo, em que ainda não haja a infraestrutura.
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