São Paulo – Embora o segmento de caminhões venha colhendo bons resultados no seu crescimento de produção, de vendas e até de exportações durante a pandemia, serão necessários estímulos com políticas públicas dedicadas à inovação e à tecnologia, com a criação de oportunidades para que o transportador renove sua frota, para que essa bonança se sustente ao longo de 2022.
Jogam a favor os fatos de que o agronegócio deverá continuar pujante, assim como a construção civil, a infraestrutura e o e-commerce, que ganhou força durante o isolamento social e cuja tendência, ao que tudo indica, se manterá. Não à toa, embora com ociosidade em torno de 50%, as empresas fabricantes de veículos comerciais deverão encerrar 2021, segundo projeções da Anfavea, com crescimento de 58% a 60% na produção, atingindo até 175 mil unidades, alta de 27% a 33% em emplacamentos, com até 138 mil vendas, e incremento de 45% a 50% nas exportações, com até 26,1 mil unidades.
Jogam contra, contudo, a falta de semicondutores, que mesmo em escala menor afetam os pesados, e de componentes, a exemplo de pneus, e percalços com a logística, com o atraso de fretes, a falta de contêineres e voos cancelados. Entram nessa conta também o aumento dos preços de insumos, como o diesel e a energia elétrica, e as incertezas acerca da disputa eleitoral no ano que vem.
Foi o que contextualizou o vice-presidente da Anfavea, Gustavo Bonini, durante a abertura do Fórum AutoData Veículos Comerciais, realizado de forma on-line pela AutoData Editora até a terça-feira, 30: “Em um país com dimensões continentais como o Brasil é fundamental ter políticas que desenvolvam todo o parque instalado, não só para atender ao mercado local mas para que as indústrias possam ampliar suas exportações inclusive para outros continentes, para que o setor se torne mais competitivo.”
Bonini citou que, para isto, é necessário haver parceria com a academia e com outros segmentos, a fim de ampliar o trabalho de qualidade da produção: “O setor é marcado pela pesquisa e pelo desenvolvimento, com muitas fábricas 4.0, alta tecnologia resultante de investimentos robustos realizados ao longo das últimas décadas, o que traz ao País a oportunidade de se tornar protagonista no desenvolvimento de novas tecnologias”.
Para ele cabe ao governo encontrar formas de avançar na reforma tributária e também na infraestrutura, o que envolve investimentos relevantes e de longo prazo mas que implica decisão imediata para que haja impacto daqui a dez ou vinte anos. Pontuou, também, que é importante para a indústria saber qual a rota tecnológica escolhida pelo País, a fim de definir onde pode ser feito investimento para desenvolver novas tecnologias e novos produtos.
“Há muito avanço que precisa ser feito. Por isso é fundamental termos políticas públicas que olhem para esse futuro, para que o Brasil não fique de fora do protagonismo que ainda pode ter. Porque o País tem potencial, empresas capacitadas, muitos recursos bons, mão de obra qualificada. E é importante, para que possamos ter segurança sobre o que acontecerá, ter a certeza de que o investimento que a indústria está fazendo gerará resultados para todos, para o País, para a sociedade, que é uma possibilidade de assumirmos a liderança regional. Possuímos um potencial que precisa ser melhor explorado.”
E as políticas públicas, na visão de Gustavo Bonini, incluem também o programa de renovação de frota, com condições de acesso a veículos mais novos, fazendo com que aquele que possui caminhão de 30 anos possa adquirir um de 20, e aquele que tem um de 20 possa ter um de 10, até que gradativamente se chegue a um modelo novo com mais segurança, maior eficiência e tecnologia, o que, inclusive, ajudaria a reduzir custos anuais do governo com desdobramentos da frota envelhecida que, segundo Bonini, atualmente é de R$ 62 bilhões.
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