São Paulo – O cenário de crise no fornecimento de semicondutores e de incertezas trazidas pela conjuntura macroeconômica e política deste ano tem afetado pouco ou quase nada a produção da Unipac. Com sede em Pompeia, SP, a empresa especializada na transformação de polímeros, que tem tanques de combustível e de ureia para pesados como seu carro-chefe e fornece também protetores de caçamba para picapes, nunca viu tamanho crescimento em seus 45 anos: quase dobrou sua receita líquida ao registrar expansão de 91% com relação a 2020 apontam dados preliminares, pois os números anuais ainda não foram fechados.
E, ainda que a comparação seja feita com 2019, período pré-pandemia, o aumento é de 50%.
Dois fatores contribuíram para que a Unipac surfasse uma onda maior em 2021. Um deles foi que na esteira da maior demanda por caminhões 0 KM, que ampliaram os emplacamentos em 43,5% no ano passado, chegando a 128,7 mil unidades, de acordo com a Anfavea, a Unipac se beneficiou do aumento de pedidos. O outro fator foi que a empresa também atua no mercado de reposição e, diante do aquecimento da procura por modelos seminovos e usados, também registrou alta nas encomendas. Dados da Fenauto apontam para mercado de 15 milhões de unidades, alta de 17,8% ante 2020.
Ao olhar separadamente OEM e aftermarket a receita líquida gerada pelo fornecimento para fabricantes de caminhões e ônibus quase dobrou, ao disparar 97% frente a 2020. E ante 2019 o incremento é de 47%: só não foi maior devido às dificuldades de abastecimento que também afetaram os pesados, embora em menor escala. Quanto às vendas de reposição o aumento foi de 46% com relação a 2020 e de 91% na comparação com 2019, pois foi durante a pandemia que houve o maior interesse por veículos usados. Os valores não foram informados pela empresa.
Diretor comercial da Unipac, Mauro Fernandes afirmou que, historicamente, nunca se viu salto desses no faturamento. "Rastreamos os resultados dos últimos dez anos e nem quando houve a mudança de motorização dos pesados para o Euro 5, em 2012, o crescimento foi tão intenso”.
Além do superaquecimento do mercado ele ressaltou que o estreitamento das relações com os fornecedores também contribuiu com o resultado positivo. Fernandes ponderou, entretanto, que houve revezes na caminhada: afinal, a companhia sofre igualmente com os efeitos da inflação nas alturas, que encerrou o ano passado nos 10%, e com o encarecimento de sua principal matéria-prima, o polietileno, que subiu de 55% a 60%. Embora o insumo seja adquirido localmente, fornecido pela Braskem, ele reflete o encarecimento do petróleo e da nafta, seu derivado, que seguem preço internacional e acompanham a alta do dólar para o patamar de R$ 5,60. Nessa conta também entra a disparada do custo da logística, e o desafio ficou por conta da negociação com fornecedores e do repasse para os clientes.
Apesar desses percalços, porém, e das nebulosas perspectivas econômicas para este ano, diante do aumento dos juros, da projeção de PIB zero, da inflação e do dólar em alta, e das eleições, Fernandes é otimista. Ele se apoia no crescente desempenho do agronegócio, que deve continuar puxando a venda de caminhões, e na mudança de motorização para o Euro 6, a partir de 2023, e projeta crescimento de 15% para 2022.
“Para este ano, como a base de comparação é mais forte, não esperamos alta porcentual tão expressiva como a de 2021. Então vamos apostar também no lançamento de produtos e serviços.”
Novidades – Ao fornecer tanques para todas as montadoras de caminhões que operam no País a Unipac quer expandir ainda mais sua atuação, conquistando modelos que ainda não são adeptos de seu produto, com lançamentos. Um deles é o tanque integrado de ureia e combustível, solução patenteada pela companhia e utilizada pela VW Caminhões e Ônibus desde 2016, mas que, com contrato de exclusividade, não era possível comercializar para outras empresas – situação que vive mudança pois, segundo o diretor, há negociações em andamento com Mercedes-Benz e DAF:
“Esse produto é menor em tamanho e faz reduzir a quantidade de metais utilizada. Em vez de usar quatro suportes requer apenas dois. Com a diminuição do peso e do tamanho o caminhão ganha mais espaço para transportar sua carga e consome menos combustível. Existe ganho de custo, portanto”.
O market share da companhia no segmento de tanques de combustível é de 50%, afirmou Fernandes. Segundo ele, mesmo tendo liberdade de design, maior durabilidade e menor preço que os modelos de alumínio, seus concorrentes, as montadoras optam por utilizar ambos os produtos conforme o porte do veículo e seu uso. Por exemplo: pesados e extra-pesados preferem o alumínio pela aparência. Mas unidades destinadas à mineração ou cana-de-açúcar optam pelo plástico por ser mais resistente.
De olho no futuro a Unipac que, de acordo com o executivo, foi pioneira na produção de tanques de plástico, que sucederam modelos de metal, vítimas de corrosão, já iniciou pesquisas sobre o que os dias a seguir reservam ao seu carro-chefe, hoje responsável por 95% das vendas de sua divisão do setor automotivo:
“Acompanharemos a revolução tecnológica para entender o que vem depois do diesel. Temos pesquisas em andamento para buscar alternativas ao tanque desse combustível. Estamos testando materiais recicláveis e também conversando com montadoras sobre o uso de combustíveis alternativos, como hidrogênio e biogás”.
O setor automotivo responde, atualmente, por um quarto do faturamento da Unipac. E, de acordo com o executivo, sua participação foi ampliada recentemente, após atravessar fase crítica, como define o período 2014-2019. O restante da receita da empresa, pertencente ao Grupo Jacto, de origem familiar e que completou 70 anos, provém de embalagens para os segmentos de agroquímicos e alimentação, e da divisão de logística, com o fornecimento de caixas para carregamento de peças, que atende também montadoras e a cadeia de autopeças. Há ainda a transformação de peças plásticas para o grupo, que atua fortemente no ramo de máquinas agrícolas, de limpeza e em soluções de transporte.
Na divisão de logística a aposta está na digitalização de processos com o lançamento de plataforma de rastreabilidade de ativos para fazer a gestão das embalagens, peças e, inclusive, eixos: “Com esta solução é possível identificar a localização dos itens, se há alguma falha na cadeia de manutenção ao encontrar peça danificada e providenciar nova, e cuidar também da logística reversa”.
Fernandes contou que tem feito programas-pilotos com clientes como Mercedes-Benz, VWCO e Genera Motors: a empresa fornece caixas para transporte de peças e componentes de carros de passeio: “A diversificação das atividades sempre fez parte da missão da Unipac. Tanto que começamos a atuar também no segmento de energia fotovoltaica, na produção de painéis flutuantes, semelhantes a boias, para empresas”.
O resultado das iniciativas se reflete no emprego: a companhia possui 1 mil 95 empregados em suas cinco operações no País, sendo que 230 foram contratados no ano passado e, hoje, há 28 oportunidades em aberto e catorza vagas para aprendiz.
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