São Paulo – Um dos primeiros efeitos dos conflitos da Rússia com a Ucrânia sobre a indústria automotiva global deverá ser a inflação das matérias-primas. Essa é a avaliação do COO da Stellantis para a América Latina, Antonio Filosa, que acredita em impacto reduzido no fornecimento direto de peças e componentes na região pelo fato de a produção ser bem localizada, mas em possível transtorno pela reorganização logística que a situação demandará.
O executivo lembrou que a guerra traz consequências bem mais graves para a população diretamente envolvida, mas elencou efeitos no mundo dos negócios, como o aumento dos custos e a confusão logística. Para o primeiro caso existem duas explicações:
“Primeiramente pela migração de capitais, que já está acontecendo e beneficia inclusive o Brasil, com o dinheiro dos investidores indo em direção a commodities, por exemplo. E depois pela menor oferta de algumas matérias-primas, como é o caso do gás na Europa”.
Antonio Filosa
Na cadeia de fornecimento, segundo Filosa, os transtornos começam pela geografia do conflito: ele está localizado bem no centro do fluxo comercial global, por onde passa boa parte das mercadorias que saem de um canto a outro do planeta.
“A situação obrigará eliminar algumas rotas, corrigir outras. O espaço aéreo da Ucrânia, por exemplo, não é mais transitável. Teremos mais problemas a gerenciar, a complexidade aumentou, em um cenário em que já passamos por desabastecimento de componentes”.
Embora este efeito logístico respingue nos negócios da América do Sul de alguma forma Filosa não crê em consequências mais graves na região: “Da Rússia ou da Ucrânia para cá vem muito pouca coisa. O problema está mais no negócio global. Aqui o efeito maior será a inflação e alguma coisa de reorganização da rota logística”.
É precipitado, na avaliação de Filosa, dizer que a guerra poderá mexer com os volumes do mercado local. A expectativa dele, citando analistas, é a de que um acordo seja feito em breve e a situação não se estenda. Mas, caso este acordo não saia, poderá ser necessário rever os negócios.
O COO da Stellantis elogiou o movimento de redução do IPI promovido pelo governo federal na semana passada: “A carga tributária, e a ineficiência logística, são os principais componentes do custo Brasil. Mexer em um deles é uma atitude positiva da equipe econômica”.
Àqueles que esperavam redução nos preços dos veículos com o imposto menor, porém, o executivo jogou um balde de água fria: no caso da Fiat, segundo ele, a tabela de fevereiro foi mantida em março. O efeito, portanto, foi evitar um novo reajuste: “Estamos com uma pressão inflacionária, não é de hoje. O preço do aço, por exemplo, foi reajustado em 50% nos últimos anos, ano a ano, e o automóvel usa muito aço. Então o efeito no curto prazo deverá ser esse, evitar novos reajustes”.
Benefício de volumes, segundo o executivo, só deverão aparecer no médio a longo prazo. Filosa disse que a queda nas vendas do primeiro bimestre é decorrente, ainda, da crise de abastecimento de peças e componentes que obrigou às empresas cortar produção: “Não há crise de demanda. Existe cliente. O que não temos é produção suficiente”.