São Bernardo do Campo, SP — Nos seus primeiros meses à frente da operação brasileira de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz o alemão Achim Puchert tem lidado com desafios globais como a crise dos semicondutores e a guerra na Ucrânia, problemas que têm impactado o ritmo de produção local e demandaram medidas como colocar em férias coletivas dois grupos de seiscentos trabalhadores por doze dias cada, até que o abastecimento dê sinais de melhora.
Ainda assim, Puchert avaliou que o desenvolvimento do mercado “provavelmente será um pouco melhor do que o ano passado”, a depender da extensão das limitações da cadeia de suprimentos, o que inclui a disponibilidade de chips para finalizar os caminhões:
“Obviamente, teremos de ver como a questão dos semicondutores se desenvolverá neste ano. Acredito que a questão política na Europa e na Rússia não deva afetar diretamente aqui, mas o preço de matérias-primas e de alguns componentes acaba impactando o nosso mercado”.
Para o jovem executivo de 42 anos, que desembarcou no Brasil em janeiro para conhecer as fábricas locais e acabou de obter seu visto de trabalho – o que possibilitou concluir sua mudança esta semana para São Paulo –, agora o desafio é que todos os mercados voltem a produzir em escala global.
E também reverter questão de demanda e oferta. Ele analisou que um dos mais duros percalços foi a mudança de cenário em que havia o aumento da oferta de componentes, mas ao mesmo tempo era preciso olhar individualmente a cada um dos clientes para conquistá-los e para a atual situação, bem diferente, com a crise de abastecimento global em que há procura, porém, faltam produtos:
“Estamos tendo muitas e intensas conversas com os fornecedores para obter semicondutores porque o mercado está aquecido, mas não conseguimos entregar. E poderíamos vender muito mais caminhões.”
Achim Puchert
O impacto disso, especificamente no caso da Mercedes-Benz, foi a perda da liderança do mercado para a Volkswagen Caminhões e Ônibus no ano passado.
Puchert citou que contará a favor a introdução do motor Euro 6 em 2023, pois geralmente o ano que antecede a mudança é bastante forte em vendas por causa da mudança da tecnologia, que encarece o novo produto.
Por esses motivos, apesar das limitações da cadeia de suprimentos, Puchert afirmou esperar que em 2022 o mercado esteja um pouco melhor que o ano passado.
Em relação à possibilidade de haver novo investimento no Brasil, diante da expectativa de que o resultado deste ano supere o do ano passado, e uma vez que o ciclo de investimentos iniciado em 2018 para concluir a transformação da fábrica de São Bernardo do Campo, SP, em indústria 4.0, de R$ 2,4 bilhões, terminará no fim deste ano, o executivo mencionou que geralmente o planejamento requer um pouco mais de tempo, e que dificilmente algo é feito um ou dois anos à frente, pois está muito perto.
Puchert lembrou que nos últimos anos houve significativas mudanças em São Bernardo, tanto em tecnologia como de organização, com os preparos para nova linha de produtos Euro 6. E que agora quer focar em questões como o caminho trilhado para zerar emissão dos veículos e da operação brasileira – recentemente, a fábrica do ABC conquistou o certificado de aterro zero, título que o Grupo Daimler Truck quer estender a todas as suas unidades no mundo até 2030.