São Paulo — Com o avanço da eletrificação na Europa a produção de componentes para veículos movidos por motores a combustão interna deverá migrar para outras regiões, movimento que trará oportunidades para as grandes empresas instaladas no Brasil e na América Latina, assim como para sua base de fornecedores. Essa foi a visão apresentada por Giulianno Ampudia, vice-presidente de compras da Bosch América Latina, e Tarcísio Costa, vice-presidente de gestão de materiais da ZF América do Sul, durante o segundo dia do Seminário Compras Automotivas, realizado pela AutoData Editora, de forma online até a quarta-feira, 25.
O vice-presidente da ZF classificou a sua operação nacional como forte candidata a receber a produção de câmbio automático para atender ao mercado local e funcionar como base de exportação: “Temos o conhecimento e a capacidade para atender essa demanda no futuro, até porque a ZF reformulará suas fábricas no mundo para focar na eletrificação. É uma oportunidade que virá e poderemos atender globalmente às demandas por mais dez ou quinze anos”.
O executivo da Bosch também acredita que a operação no Brasil e região terá grandes oportunidades no futuro: “Queremos nos tornar uma base de exportação para motores a combustão e localizar cada vez mais componentes. Mas teremos concorrência de outros mercados por esses novos negócios e por isto a competitividade é muito importante”.
Os dois executivos concordaram que, para esse cenário tornar-se realidade, as operações locais terão que competir com outros países que também seguirão produzindo motores a combustão, caso da Índia, que deverá ser um forte concorrente no esforço pela localização desses componentes.
A curto prazo Bosch e ZF também concordam que é um bom momento para que seus fornecedores realizem investimentos em suas operações e busquem maior produtividade, para avançar com a nacionalização de componentes. A valorização do dólar, a alta nos custos logísticos e os problemas com as entregas globais abriram oportunidades para as empresas nacionais.
A Bosch possui 150 fornecedores locais e acredita que 25% deles podem receber nomeações globais e atender a outras suas fábricas. No ano passado a companhia gastou R$ 1,3 bilhão em compras, sendo que 47% desse valor foram dedicados as empresas nacionais. Segundo Ampudia a projeção é subir esse porcentual em seis ou sete pontos até 2025.
Os gastos da ZF com compras em 2021 chegou a R$ 4,2 bilhões, sendo que 60% foram utilizados em negócios com fornecedores locais. O valor mostra, de acordo com Costa, que ainda há espaço para avançar na localização de componentes, considerando a base local de, aproximadamente, oitocentas empresas.