Sorocaba, SP – Rafael Chang, presidente da Toyota do Brasil, reconfirmou que é definitiva a decisão de fechar a fábrica de São Bernardo do Campo, SP, a primeira da montadora fora do Japão, inaugurada em 1962. Depois de transferir, em 2021, a sede administrativa para Sorocaba, SP, há dois meses a Toyota comunicou que até novembro de 2023 encerrará todas as operações industriais que ainda restavam na unidade e transferirá as atividades para as plantas paulistas de Sorocaba, Porto Feliz e Indaiatuba.
“É a melhor alternativa no momento para aumentar nossa produtividade no País. Redistribuiremos as operações de São Bernardo com mais sinergias para as nossas unidades no Interior de São Paulo. Mas não estamos demitindo ninguém, oferecemos vagas a todos os empregados nas outras três fábricas. Para quem preferir sair, estamos negociando um pacote de benefícios.”
Rafael Chang, presidente Toyota Brasil
Em nota divulgada na quarta-feira, 1º, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC confirmou que esgotou todas as tentativas de convencer a Toyota a manter aberta a fábrica de São Bernardo, que completa 60 anos este ano. Desde o anúncio de encerramento das atividades da planta a entidade concentrou esforços em tentar encontrar alternativas para a permanência de atividades produtivas Toyota na cidade, o que envolveu reuniões com representantes da empresa e do poder público, incluindo o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, profissionais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado e o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando. Os metalúrgicos do ABC também realizaram até uma reunião on-line com o sindicato no Japão.
Sem sucesso em nenhuma das tentativas o sindicato informou que de agora em diante concentrará suas atenções para assegurar boas condições aos cerca de 550 trabalhadores da unidade na transferência para outras fábricas da Toyota, e para garantir pacote de benefícios aos que decidirem deixar a empresa.
Renascimento e despedida – Após fabricar por quase quarenta anos o utilitário 4×4 Bandeirantes em São Bernardo, de 1962 a 2001, a Toyota concentrou na unidade a fabricação própria de peças forjadas, principalmente bielas e virabrequins para seus motores, fornecidos para outras fábricas que a empresa abriu depois no País e também para exportações para os Estados Unidos, que atualmente consomem 80% da produção.
Ao longo da última década a Toyota promoveu uma série de investimentos para revitalizar a planta de São Bernardo. Primeiro, em 2014, o sindicato afirmou que a empresa tinha planejado investimento de R$ 60 milhões na unidade para montar lá o híbrido Prius a partir de 2016.
O plano nunca saiu do campo das especulações, mas em 2015, em iniciativa que foi chamada de SBC Reborn, a Toyota concluiu ali investimento de R$ 19 milhões, com a adoção do segundo turno de produção na forjaria e a construção de nova sede administrativa da empresa na América Latina, transferida de São Paulo para São Bernardo com a mudança de 170 funcionários, que se juntaram aos 1,4 mil que já trabalhavam lá na época.
Depois, em 2015, mais R$ 5 milhões foram investidos para construir o primeiro Centro de Visitas da Toyota na América Latina, com exposição da história da empresa e de seus principais carros. Com a transferência da sede administrativa para Sorocaba, no ano passado, os prédios foram desativados e o pequeno museu também foi transferido para o Interior.
Outros R$ 46 milhões foram aplicados para abrigar em São Bernardo o primeiro centro de pesquisa aplicada da Toyota na região, destinado a desenvolver materiais, componentes e versões para veículos produzidos no Brasil e na Argentina. Ali foi desenvolvido o projeto de modelos híbridos flex, com motorização bicombustível etanol-gasolina. O centro também foi transferido para Sorocaba.
Nada disso, contudo, garantiu a sobrevivência da primeira fábrica da Toyota fora do Japão. Como lembrou o presidente Moisés Selerges, do Sindicato dos Metalpúrgicos do ABC, “o Sindicato, o tempo todo, vinha cobrando investimentos da Toyota em São Bernardo para garantir o futuro da planta, já que a empresa sempre afirmou que se tratava de uma unidade lucrativa, produtiva e que seria preservada”.