São Paulo – Embora a América do Sul, mercado extremamente importante para fabricantes de veículos em todo o mundo, venha apresentando crescimentos anuais acima de 5% nos últimos anos e tenha avançado na localização de componentes, o que ganhou força com a pandemia e o combo de dificuldades de suprimentos, logística e dólar alto, a região é considerada como a mais atrasada na adoção da eletrificação — e os altos preços podem ser os responsáveis por isto.
Foi o que avaliou Scott McEwan, diretor da Hyundai Mobis nos Estados Unidos, empresa especializada no fornecimento de componentes e sistemas automotivos, durante participação no 3º Encontro da Indústria de Autopeças promovido pelo Sindipeças na segunda-feira, 20.
Dados apresentados por McEwan apontam para mercado de 3,5 milhões de veículos leves, mas com parcela ínfima de elétricos de pouco mais de 100 mil unidades em 2021: “Mas está aumentando, pois nos últimos doze meses cresceu 80%”.
A transição mais atrasada para veículos elétricos e híbridos encontra grande obstáculo nos preços praticados no mercado, uma vez que essas regiões têm tradição em vender mais modelos de entrada, e a distância dos valores é expressiva.
O executivo pontuou, também, que com mudança nos planos das empresas fabricantes de querer ter fornecedores por perto, se possível do outro lado da rua, tem-se uma grande ruptura, mas, também, grande oportunidade: “O papel dos sistemistas está mudando e mudará por causa da natureza dos componentes que integram os elétricos. E não há muitos fornecedores, a exemplo dos de baterias. Mas nós precisamos deles”.
A pressão inflacionária cultural nos países sul-americanos causa certa relutância de “entrarmos com tudo nesses mercados, mas as oportunidades variam e são reais”. Mas o tamanho potencial desse mercado é contraponto a favor de que a região avance na eletrificação.
Até 2030 em torno de 50% dos veículos leves em todo o mundo serão eletrificados, estimou, ao complementar que esse porcentual já foi alcançado em algumas áreas da Europa: “Talvez alguns veículos se desenvolvam até lá. Se esse for o caso os países da América do Sul terão de escolher se liderarão, acompanharão ou se atrasarão nessa transição”.
De acordo com McEwan problemas técnicos e de mercado já terão sido resolvidos se a região continuar atrasada.
Matriz energética – Se o assunto que transpõe barreiras, hoje, é a eletrificação pouco se fala na fonte de energia para mover essa frota crescente. Diferentemente do Brasil, por exemplo, em que a matriz energética é majoritariamente renovável, apesar de avançar a passos lentos nessa tendência do setor automotivo, países em que há grande número de veículos movidos a bateria contam com fonte baseada em combustíveis fósseis.
Ou seja, a equação é inversa. Se por aqui estamos na transição para a eletrificação, em países desenvolvidos há a transição para a obtenção de energia limpa.
Mingyu Guan, sócio gerente da McKinsey & Company em Beijing, China, disse que, como é sabido, a China utiliza biocarvão e há um esforço para usar outras fontes de energia mais sustentáveis: “Acredito que em cinco ou dez anos ainda teremos um período de transição. Quando a eletricidade for melhor gerada será um impulso a mais para a eletrificação”.
Tony Bell, vice-presidente de operações da GKN Driveline na Ásia, lembrou que o Japão utilizava energia nuclear, mas que, depois do terremoto e do tsunami, isso foi eliminado: “Mesmo assim a energia elétrica ainda está vindo de combustível fóssil”.
McEwan, estabelecido em Detroit, Estados Unidos, desde 1989, relatou que no país são usados, sobretudo, gás natural e combustível fóssil, como carvão, mas isso está diminuindo: segundo ele reatores estão sendo desligados:
“Eu já me perguntei muitas vezes: será que estamos só deslocando a pegada de carbono? A única coisa que me faz acreditar que estamos no caminho certo é que temos alternativas. Por exemplo: quando usamos um carro movido a gasolina existe apenas uma fonte de energia para ele. Mas com um elétrico há um conjunto de opções, como energia solar ou alguma energia verde”.
Scott McEwan, diretor da Hyundai Mobis
Sobre a possibilidade de a Hyundai Mobis investir no mercado de energia brasileiro ele disse que, embora não possa dar um sim definitivo, isso está sendo estudado.