Empresa terá em oferta cinco modelos de ônibus elétricos até novembro
São Paulo – De olho nas homologações para a licitação da Prefeitura de São Paulo e empenhada em finalizar os preparativos da inauguração de sua sede na via Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP, a Eletra corre contra o tempo e anuncia que terá, até novembro, cinco opções de ônibus elétricos. E até o primeiro trimestre de 2023 aportará mais R$ 12 milhões na produção dos veículos, além dos R$ 10 milhões que injetou na nova casa, totalizando, assim, R$ 22 milhões.
A perspectiva era a de que o galpão de 27 mil m2 no bairro Paulicéia, vizinho às clientes Mercedes-Benz e Scania, tivesse iniciado a operação em julho. Mas houve a necessidade de tempo maior para finalizar os equipamentos de fábrica, postergando a abertura para setembro.
Ambos foram apresentados ao público durante a Lat.Bus, feira dedicada ao setor de ônibus realizada na Capital paulista. Embora ainda não haja negócios fechados para rodar em São Paulo a diretora executiva da Eletra, Iêda de Oliveira, afirmou que existem muitas negociações em andamento para a licitação da SPTrans.
Segundo ela em setembro serão lançados os modelos de 21,5 metros, para 150 passageiros, junto com o de 12,8 metros, ambos chassis Mercedes-Benz. “Junto com os carros serão lançadas também as recargas de oportunidade. Eles possuem autonomia de 180 quilômetros, na média, mas com três recargas de 15 minutos conseguem chegar a 250 quilômetros de operação”.
Na sequência será lançado outro modelo, de 10 metros, para 54 passageiros, chassi Mercedes-Benz: “Até novembro nossa expectativa é ter cinco modelos apresentados com base na SPTrans, mas que poderão ser vendidos a qualquer cliente. Seremos a única empresa com essas cinco ofertas disponíveis na América Latina”.
A expectativa é chegar até o fim do ano que vem com a produção de pelo menos 2,5 mil ônibus. Oliveira garantiu que para este ano já está instalada a capacidade para 1,8 mil unidades, que poderá ser ampliada em 50% em 2023, ou seja, com mais novecentas unidades.
Por enquanto a Eletra contabiliza oito vendas para Salvador, BA, que serão entregues em setembro, além de quatro para Vitória, ES. Mas há expectativas com relação a Curitiba, PR, São José dos Campos, SP, e Goiânia, GO: “Imaginamos que para o segundo trimestre de 2023 o mercado dará uma grande acelerada”.
O novo corredor de BRT no Grande ABC, que deve ser inaugurado no fim de 2022, início de 2023, terá a estreia do ônibus com a tecnologia de recarga em movimento.
Custo x benefício — A respeito de mais vendas efetivas Oliveira disse que há negociações em andamento e que ainda não pode divulgar informações, o que deverá acontecer até o fim do mês.
“As perspectivas são muito boas porque, primeiro, tivemos uma pressão muito forte do diesel, e o elétrico já tinha uma vantagem quando comparados os modelos de propulsão ao longo de quinze anos. E a grande vantagem é que estamos antecipando o retorno dos operadores.”
Hoje, de acordo com a executiva, o custo de energia equivale a um terço do que se gasta com o diesel: “Um ônibus gasta, em média, R$ 18 mil de diesel no sistema de São Paulo por mês. Ele vai passar a desembolsar R$ 6 mil de eletricidade.”
Além disso, prosseguiu, o custo de manutenção deverá ser menor, pois o operador não terá mais que ficar trocando óleo nem desmontando parte mecânica para ver a engrenagem. Ele terá uma frota mais disponível, apontou, e perceberá que seu ganho não será apenas no custo de energia, mas no de manutenção também.
O custo de aquisição do veículo, em uma conta simples, conforme Oliveira, é três vezes maior. Mas a vida útil do ônibus dobra, chegando a vinte anos. Considerando esse uso ao longo de duas décadas, em cinco anos é possível começar a recuperar o investimento e ter lucro, garantiu.
“Além de oferecermos um veículo 100% nacional, o operador já está acostumado com toda a cadeia de peças. Esse é o grande diferencial. Nós adaptamos todo o sistema original de freio, suspensão e pneumáticos.”
Quanto às baterias, foram homologadas para os modelos produtos Weg e Moura, por meio da CATL. A exigência, de acordo com a executiva, é que os componentes cheguem ao oitavo ano de vida com perda máxima de 20% na capacidade energética:
“Então, se o veículo possui 100 quilômetros de autonomia hoje precisa chegar a 80 quilômetros daqui a oito anos. E a recarga de oportunidade, em um ponto estratégico, por 15 minutos, será a possibilidade de ampliar a vida útil da bateria e melhorar o custo do sistema”.
Os pneus, que já vêm com o chassi, são os mesmos dos veículos a diesel. O que muda é a calota, em alumínio, para ficar mais leve — e mais bonito, dado o custo de aquisição do ônibus.
Hoje a Eletra possui 85 funcionários mas já está com 130 vagas abertas para início de trabalho no mês que vem: “Damos preferência à mão de obra da região, mas também oferecemos treinamento porque é difícil encontrar profissionais para esse trabalho”.
Concorrência — Para Iêda de Oliveira o maior entrave, por ora, é a necessidade de financiamento a juros menores por causa do valor mais elevado do veículo. Quanto à concorrência chinesa, ela disse que, mesmo com subsídios de frete e produção, a pressão do câmbio traz esses elétricos com preços de 20% a 25% superiores frente ao produto brasileiro.
“A forte demanda que eles têm na Ásia tende a jogar o preço deles para baixo. Um conector que nos custa US$ 20 para eles sai a US$ 1. Porque toda a logística chinesa é subsidiada pelo governo. Mesmo assim somos mais competitivos. Quando tivermos maior procura a tendência é diminuir o custo também, pois teremos maior capacidade de negociação para a compra de matéria-prima, demandaremos maior volume.”
O que a preocupa é a proposta de isenção do imposto de importação de 35%, o que traria concorrência desleal com quem produz no Brasil, afirmou.
As tecnologias têm que se adequar às realidades. E isso está disponível no País: “Queremos nos posicionar como a primeira grande montadora de ônibus elétricos brasileira. Não é possível que o Brasil não tenha uma montadora de ônibus elétricos. Não faz sentido. Temos chassi, carroceria, a Weg, usamos motor central que opera há 22 anos”.