São Paulo – A Eletra, fabricante de veículos híbridos e elétricos conhecida por seus trólebus, e que começou a adaptar chassis tradicionais de motor movidos a combustão interna para rodarem com tração elétrica, ainda que de forma híbrida, na virada do século, escreve novo capítulo em sua história. Com o movimento crescente de prefeituras para adotar ônibus eletrificados para rodar em suas frotas e reduzir emissões a Eletra avaliou este como o momento ideal para expandir significativamente sua operação em São Bernardo do Campo, SP, onde a empresa nasceu em 1999.
Para tanto desembolsou R$ 10 milhões para encontrar espaço que comportasse os planos de crescimento. Após busca que durou seis meses a empresa está em processo de mudança de unidade no bairro do Montanhão, onde possuía capacidade para produzir 25 veículos/mês, para galpão de 27 mil m² que pertencia à Conexel e que ficou fechado por cinco anos no km 16 da Via Anchieta, bairro Paulicéia, vizinha à Mercedes-Benz. A fábrica conseguirá comportar a produção de 150 veículos/mês.
A nova planta será inaugurada no mês que vem e serão contratados, até o fim do ano, 350 profissionais: hoje emprega oitenta funcionários. A diretora executiva Iêda de Oliveira disse que nessa primeira fase a expectativa é a de produzir de cem a duzentos veículos. Os recursos estão sendo injetados para promover a mudança estrutural: “Além da localização excepcional a escolha do imóvel se deu pela conservação do local, que impressionou. Toda a cabine primária estava funcionando, a energia disponível é mais do que suficiente para o crescimento pretendido”.
A partir do ano que vem, quando começará a segunda etapa, será realizado novo aporte, segundo ela “muito maior do que este”, para subsidiar as contratações e a aquisição de equipamentos, ferramental, instrumentação, desenvolvimento, testes e medições e ampliar de fato a capacidade produtiva. Oliveira não esclareceu os valores.
De olho nas oportunidades, uma vez que, nas palavras da diretora, o mercado de ônibus elétricos no Brasil começa no segundo semestre de 2022, ela espera que a Eletra alcance, em vendas, de 250 a 400 unidades este ano.
Em 2023, para sustentar a meta de produzir 1,8 mil veículos anuais, a equipe chegará a 1,2 mil funcionários, sendo 30% da mão de obra composta por engenheiros e profissionais de tecnologia da informação e 70% de operários para atuarem no chão de fábrica, uma oportunidade para metalúrgicos que ainda não se recolocaram após o fechamento da Ford e também para aqueles que decidirem não seguir para o Interior com a Toyota.
“Sentimos que estava na hora de ampliar a capacidade produtiva. É como se fosse um novo negócio, como se estivéssemos entrando agora nele. Mas não somos nós que estamos entrando no mercado de ônibus elétrico: ele é que começou a ter seu crescimento agora, pois até o início da pandemia era incipiente.”
Iêda de Oliveira
Licitações — Oliveira contou que a Eletra está em fase de negociação para compor a frota de elétricos da Prefeitura de São Paulo: “Nós estamos homologando os veículos. Já passamos pelos testes da SPTrans com modelo de 12 m 50 e capacidade de 71 passageiros, que está em vias de ser aprovado”.
Para este ano a companhia apresentará outras três versões elétricas: 10 metros, 15 metros, 21 m 50: “Nossa meta é, ainda em 2022, ter quatro modelos homologados para o sistema de transporte de São Paulo”. A expectativa, de acordo com a executiva, é conquistar a maior fatia possível dentro dos trezentos a quinhentos veículos que a SPTrans deverá adquirir.
A Eletra já vendeu quatro ônibus elétricos para a operadora do sistema de transporte público de Vitória, ES, e oito para a de Salvador, BA. Na Grande São Paulo a empresa possui 350 ônibus rodando desde 2013, trólebus, elétricos e híbridos.
Recarga — Os veículos com o sistema de tração elétrica da Eletra têm autonomia de 200 quilômetros a 250 quilômetros: “Temos várias formas de recarga hoje. Há veículos que só recarregam na garagem, à noite, assim como outros que têm recarga de oportunidade e possuem banco de bateria menor, o que os deixa mais leves e facilita na distribuição de cargas”.
É possível, ainda, aproveitar as paradas operacionais para realizar recargas de 10 a 15 minutos, completou, o que reduz a necessidade de embarcar muita bateria no ônibus.
Inspirada em movimento já disseminado na Europa, nomeado como de recarga inteligente, a Eletra inserirá no Brasil tecnologia de recarga em movimento. A partir de redes aéreas instaladas em trechos da linha, que podem variar de 20% a metade dela, por exemplo, cada vez que o ônibus passa por ali faz conexão automática ao plugar alavancas pneumáticas a um chapéu chinês e recarregar as baterias.
O local escolhido para a estreia da tecnologia será com ônibus que rodará no Corredor ABD, que liga São Mateus ao Jabaquara, na Capital paulista, passando por cidades do Grande ABC – o primeiro trajeto em que a empresa passou a operar e onde já existe infraestrutura para a rede de trólebus: “Devemos inaugurar ainda este ano e utilizaremos a mesma rede como recarga. Com um carregador de 120 KW/h recarga de 15 minutos garante energia para rodar até 30 quilômetros adicionais”.
Embora não tenha falado em valores Oliveira propõe investimentos em infraestrutura de redes aéreas pela durabilidade, segundo ela, de pelo menos oitenta anos.
Parceiros — Hoje a Eletra, que desenvolve tecnologia de sistema de tração elétrica e elabora todo o projeto e a integração dele em diferentes veículos pesados, tem como principais parceiros a Weg, que fabrica os motores elétricos usados nos veículos, e a Caio, que encarroça unidades principalmente em São Paulo.
Os projetos geralmente são feitos sob encomenda e levam de sessenta a noventa dias para ser produzidos. A Eletra alinha suas necessidades com os fabricantes de chassis, para que eles os forneçam sem motor nem câmbio, e com o encarroçador, uma vez que as baterias ficam no teto do veículo, o que demanda reforço estrutural. Toda a sua tecnologia é nacional.
“Costumo dizer que nosso concorrente é qualquer veículo a diesel. Conseguimos eletrificar hoje todos os modelos de chassis disponíveis no mercado.”