Renault-Nissan já suspendeu produção de suas picapes em Córdoba
São Paulo – A Argentina vive dias um tanto caóticos desde que, há um mês, o governo anunciou a extensão do imposto PAIS, Para uma Argentina Inclusiva e Solidária, a lista de bens e serviços importados que inclui automóveis, comerciais leves, caminhões e motos. Além de deixar veículos e peças mais caros a fila no porto não para de crescer e empresas, como a Renault, estão suspendendo sua produção.
A companhia parou seus dois turnos de produção em Córdoba, de onde saem as picapes Nissan Frontier e Renault Alaskan, na segunda-feira, 28, devido à falta de insumos, principalmente vidros, informou o Motor 1 Argentina.
Isso ocorre porque o PAIS se aplica também às peças importadas para veículos fabricados localmente, inclusive as produzidas no Brasil. E como o tributo é aplicado sobre a cotação do dólar oficial, adotado pelas montadoras para importar carros e peças, aplica-se a ele sobretaxa de 7,5%.
Outro problema é a falta de licença de importação, motivada pela escassez de dólares no país vizinho, que já completa dois meses e forma enormes filas no Porto de Zárate. Segundo o Motor 1 Argentina há mais de 30 mil carros retidos, aguardado autorização para serem nacionalizados – o que se estende às peças.
E, diante do cenário, a indústria automotiva local está descrente, principalmente frente ao descumprimento da promessa de excluir o tributo de autopeças importadas que equipariam veículos, principalmente picapes, fabricados na Argentina e dedicados à exportação.
Com a alíquota adicional o setor alega carga fiscal mais elevada do que nunca e, consequentemente, perda de competitividade com relação a produtos asiáticos, por exemplo, livres de impostos.
A extensão do PAIS ao setor foi convencionada pelo ministro da Economia da Argentina, e pré-candidato à Presidência da República, Sergio Massa, como efeito colateral de pacote fiscal no âmbito das negociações com o FMI que busca controlar a crise de inflação, déficit e dívida. Industriais argentinos se dizem enganados por Massa.
A desaprovação a Massa foi refletida nas eleições primárias realizadas na Argentina em 13 de agosto. Quem levou a melhor foi o candidato ultradireitista Javier Milei, que defende a dolarização da economia argentina e a extinção do Banco Central. O primeiro turno será disputado em 22 de outubro.
Brasil busca auxiliar Argentina em meio à crise
Para pagar os fornecedores brasileiros das montadoras argentinas Massa tem vendido yuans para trocá-los por reais. A ideia é evitar que a indústria automotiva local entre em colapso.
Na segunda-feira, 28, o ministro argentino encontrou-se em Brasília, DF, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir novos mecanismos de financiamento para o comércio bilateral dos dois países. O objetivo foi assegurar a continuidade dos embarques de alimentos e de peças de veículos.
Foi aventado acordo que libera US$ 600 milhões para financiar exportações locais ao país vizinho envolvendo cooperação do Banco do Brasil com BNDES e CAF, Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe.
Segundo Haddad o objetivo é que quando o exportador brasileiro vender ao argentino ele seja pago pelo BB, que receberá a garantia do CAF:
“O BB garantirá as exportações das empresas brasileiras e o CAF entrará com uma contragarantia para o banco. Existe a possibilidade de a gente nem precisar acionar o Fundo Garantidor de Exportação. Seria uma operação nova que viria ao encontro dos interesses de restabelecer o fluxo de comércio bilateral”.
O acordo depende da aprovação do conselho gestor do CAF, que se reunirá em 14 de setembro.