São Paulo – Em protesto contra a decisão da Mercedes-Benz, de eliminar 3,6 mil postos de trabalho a partir do ano que vem ao optar por terceirizar algumas atividades hoje realizadas dentro da fábrica de São Bernardo do Campo, SP, os funcionários da linha de produção estabeleceram interromper a produção na quinta-feira, 8, durante o segundo e terceiro turnos, e na sexta-feira, 9. A jornada extra de sábado, 10, também está suspensa.
A paralisação foi aprovada em assembleia realizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC na tarde de quinta-feira, 8, no estacionamento da empresa, em ato que reuniu em torno de 6 mil pessoas, de acordo com estimativas da entidade, o que representa quase o tamanho do chão de fábrica, composto por 5,6 mil operários.
Na segunda-feira o sindicato realizará novo encaminhamento e, na terça, 13, haverá reunião de representantes da entidade com os da empresa. O presidente do sindicato, Moisés Selerges, afirmou que se trata de tema difícil, que requer união dos funcionários independente da área a ser afetada com a medida, e que não vem de hoje:
“Em 2014 tivemos um processo de negociação com a empresa em que o setor de logística, um dos que ela quer terceirizar agora, já estava na pauta. Tanto que ele foi reduzido de forma substancial à época”.
A companhia informou que planeja terceirizar, além da área de logística a de manutenção, a fabricação e a montagem de eixos dianteiro e transmissão média, a ferramentaria e os laboratórios.
Nos últimos anos a Mercedes-Benz vem sinalizando que quer se dedicar somente à atividade principal, que é a montagem de veículos, segundo Selerges:
“Mas a companhia não atenta ao fato de que muitas vezes montar alguns agregados e componentes é mais vantajoso para ela própria. A logística, por exemplo, é uma área estratégica de qualquer empresa. Tivemos experiência de montadoras que terceirizaram o setor e depois voltaram atrás, pois ficava mais caro pelo risco de comprometer a cadeia produtiva”.
Além disso, há atividades que não são feitas no ABC Paulista, a exemplo das relacionadas ao eixo dianteiro. De acordo com a fabricante em compromisso com a comunidade local esses trabalhos passarão a ser exercidos por fornecedores contratados, preferencialmente na região.
“De fato, não temos esses fornecedores no ABC. E, além disso, o debate que queremos fazer é mostrar que a verticalização é vantajosa. Estou convencido de que é mais barato fazer o eixo dentro da planta Mercedes do que pagar outra empresa para fazer. Queremos mostrar isso a ela.”
Com relação à área de manutenção o sindicalista lembrou que a montadora já passou por experiências de terceirizar a atividade e voltou atrás. Ele citou também que a estamparia, que foi terceirizada em 2014, contou com acordo para realocar os operários na produção.
“O problema é que o processo de negociação já começou errado. O presidente da empresa foi a um jornal [Valor Econômico] dizer que quer terceirizar determinadas áreas e demitir 3,6 mil pessoas, sendo 2,2 mil por PDV e 1,4 mil temporários pela não renovação dos contratos. Só que ele não pode fazer isso sem alinhar com o sindicato. Não existe PDV sem aprovação dos empregados. Ele queimou a largada.”
Moisés Selerges
Quanto à reunião de terça-feira Selerges disse que espera que haja discussão em torno desses pontos e que seja encontrada uma solução razoável para as duas partes: “A greve de forma mais ampla é o último recurso. Mas as pessoas têm de ir desarmadas e abertas ao diálogo”.
O outro lado – A Mercedes-Benz informou, em nota, que está iniciando negociações com o sindicato para discutir as medidas do seu plano de transformação das operações de caminhões e ônibus no Brasil e o impacto aos empregados.
“Manteremos, a todo momento, o nosso compromisso de transparência e respeito aos colaboradores e à representação sindical, tendo em vista a urgente necessidade de reestruturação de áreas e, consequentemente, a garantia de sustentabilidade dos negócios a longo prazo no país.”
Quanto aos fornecedores a Mercedes-Benz informou que buscará empresas que absorverão significativos volumes de negócios, em materiais e serviços: “Reforçamos que faremos todos os esforços possíveis para que se atinja uma solução negociada, sempre com transparência, respeito a todos os envolvidos e comprometimento com a sociedade”.