São Paulo – A taxa de juros foi considerada pelas associações de concessionários que representam Volkswagen e Fiat como um dos principais vilões da redução da demanda por veículos 0 KM em 2022, cenário que ficou ainda mais complicado diante do aumento dos preços provocado pela adaptação às regras de emissões com o Proconve PL 7 e da oferta reduzida de modelos frente à falta de componentes.
Considerando que para 2023 a projeção seja de uma taxa de juros menor e, consequentemente, com a prestação cabendo no bolso do cliente, a perspectiva é a de que as vendas sejam maiores. Além disso a disponibilidade de unidades também deverá crescer uma vez que, com a economia europeia desacelerando justamente pelo aumento dos juros e da inflação, que há dois meses segue em trajetória oposta por aqui, com deflação, a tendência é a de que sobre matéria-prima para o Brasil.
Ademais a produção de semicondutores deve ser reforçada ao mesmo tempo em que a intensa procura pelos chips deverá se assentar pelo fato de o ritmo de vida ir aos poucos voltando ao normal com a redução de casos de covid-19. O resultado dessa equação, no cenário de menor produção na Europa, é maior disponibilidade para montadoras que atuam no País.
Foi o que constaram César Fernando Álvares de Moura, presidente da Assobrav, Associação Brasileira dos Distribuidores Volkswagen, e José Carlos Dourado, presidente da Abracaf, Associação Brasileira dos Concessionários de Automóveis Fiat, durante painel de varejo de automóveis apresentado no segundo dia do Congresso Perspectivas 2023, realizado de forma online pela AutoData Editora.
Ambos acreditam que este ano deverá empatar com 2021, no geral, com o efeito colateral extra de perda de representatividade no mercado das montadoras que sofreram mais com a escassez de chips, caso da Volkswagen que, segundo Moura, perdeu 2,5% de market share no acumulado do ano.
Mas, para o ano que vem, haverá reação na demanda, afirmam os dirigentes, em uníssono, calcada principalmente na aposta dos juros menores, o que torna factível a projeção da Anfavea de alta de 5% nos licenciamentos em 2023.
Dourado lembrou que a base da pirâmide sumiu das concessionárias com a retirada do carro de entrada, que era vendido a partir de um valor menor à vista e prestação que se encaixava no orçamento doméstico: “Marcas que tinham fortes apostas no veículo popular também perderam fluxo de loja. Além disso a aprovação de crédito ficou mais restrita”.
Para o representante das concessionárias Fiat haverá realinhamento de preços mais ameno para 2023 com maior oferta de veículos: “O varejo aparentemente terá uma reação satisfatória. A indústria ainda terá outro impacto positivo que será o da demanda reprimida das grandes locadoras”.
Moura complementou que, ao mesmo tempo, com o automóvel ficando mais caro devido à alta de preços dos insumos e pelo maior número de componentes necessários para atender às novas regulamentações, o carro popular deu um pulo de preço maior do que o incremento do salário, o que eliminou parte dos consumidores:
“Em 2019 nosso mercado era de 2,6 milhões de veículos. Hoje falamos em 2 milhões. Já houve, portanto, redução na oferta, o que acaba equilibrando com a demanda, que também diminuiu”.
O representante das revendas Volkswagen citou as taxas de juros de 2% ou 3% ao mês “tira muita gente do jogo. Quanto ao índice de aprovação: toda vez que os juros engordam fica mais difícil de aprovar os mesmos clientes, principalmente os da linha de base. Falta muito mais consumidor na linha de baixo da pirâmide, mas a tendência é que ela continue crescendo”.