São Paulo – Os desafios pelos quais o setor automotivo global passou em 2022, como a disparada do preço dos insumos e a falta de componentes, reduziram o volume de encomendas da cadeia de fornecedores diante das diversas paradas realizadas pelas montadoras. A Gestamp, como fabricante de partes de veículos de passageiros — produtos de carroceria, peças de chassis e mecanismos –, não se isentou deste impacto. Por outro lado sua participação em novos projetos e investimentos de montadoras de veículos de passeio em lançamentos de modelos, ainda que com certo atraso, trouxe demanda adicional e, consequentemente, receita extra para balizar as adversidades.
Até setembro o faturamento global da multinacional com sede na Espanha Gestamp cresceu 31%, para € 7,7 bilhões. A operação brasileira, que na realidade responde por 75% do bloco formado com a Argentina, respondeu por cerca de 10% dessa receita, segundo o presidente da companhia para o Mercosul, Manuel López Grandela:
“A expectativa é que o fechamento do ano alcance € 10 bilhões e que esse crescimento de dois dígitos seja mantido”.
O braço brasileiro da fabricante de autopeças, que emprega 5 mil dos 40 mil funcionários ao redor do mundo, deverá manter este patamar de participação nas receitas do grupo ao longo do ano que vem. Em 2022, até setembro, o faturamento já havia quase dobrado, ao registrar crescimento de 90%.
O executivo justificou que a Gestamp vem realizando investimentos de forma contínua — ele não informa o valores — a fim de agregar tecnologia aos seus produtos, o que atribuiu como fundamental para ampliar sua participação nas fabricantes de veículos locais.
Por exemplo: em sua unidade de Betim, MG, trabalha novas tecnologias orientadas para melhorar questões como a segurança e também reduzir o peso do automóvel. Ao todo, possui seis unidades no País, sendo as outras cinco em Taubaté, Sorocaba e Santa Isabel, SP, Curitiba, PR, e Gravataí, RS, além de um laboratório em São Paulo e um centro de inovação em Taubaté.
Grandela ponderou que pesou na receita a disparada dos preços dos insumos, como o aço, que encareceu 50%. Embora tenha contado a favor da Gestamp o alto índice de nacionalização com apenas 5% de importação do que utiliza para a sua produção, direcionada em quase sua totalidade para as montadoras brasileiras, muitas ferramentas vêm da Ásia, Europa e México:
“Também sofremos com a variação do dólar e com a demora na obtenção dos produtos importados devido aos problemas globais com a logística”.
De qualquer maneira, frente ao grande volume de lançamentos das montadoras como plano para seguir vendendo carros 0 KM em um mercado que atravessa dificuldades como acesso ao crédito em decorrência dos juros altos, o objetivo é manter expansão de dois dígitos em 2023.
“O que o setor precisa, agora, é que esse volume aumente, pois o ano deverá terminar com 2,3 milhões de unidades produzidas, enquanto que no passado já chegou a 3,8 milhões.”
Caminho da eletrificação – Com tradição na produção da estrutura que compõe a base dos carros, como portas, capôs, paralamas, peças para chassis, eixos dianteiros, dobradiças, batentes de portas e sistemas elétricos, a Gestamp já está se movimentando para desenvolver seu quarto pilar, o da mobilidade elétrica.
Ainda que no Brasil não sejam produzidos, por enquanto, automóveis de passageiros movidos a bateria, a companhia está se valendo de sua presença na Europa para pensar em soluções para deixar o carro elétrico mais leve e proteger a bateria e o veículo, trazendo mais segurança. Sendo assim, quando o País debutar na fabricação desses carros, a empresa já estará preparada.
Com treze centros de pesquisa e desenvolvimento ao redor do mundo – um deles no Brasil –, a companhia vem avançando em tecnologias aplicadas ao corpo do carro, como o uso de aço de alta resistência para que ele suporte melhor o impacto em caso de colisão e, assim proteja os passageiros.
E, dessa base, surgiu o battery box, que é uma caixa para cobrir as baterias nos veículos elétricos: “As baterias são muito pesadas. É preciso, portanto, pensar formas de contribuir com a redução desse peso que permitam que os carros sejam mais velozes e, ao mesmo tempo, mais seguros. Desenvolvemos solução inovadora para caixas de bateria de alumínio, que além de ajudar a reduzir o peso garantem uma vedação estanque”.
Energia limpa – Enquanto não traz essa inovação ao País, uma vez que no Mercosul ainda não há demanda por esse tipo de produto, a Gestamp procura maneiras de tornar-se mais sustentável ao adotar uso mais eficiente de matérias-primas e recursos naturais, como energia e água, reduzir gases de efeito estufa como forma de combater mudanças climáticas, e promover a economia circular.
Uma das ações foi recente acordo firmado com a Cemig para que todas as fábricas brasileiras operem com energia renovável a partir de 2024. Segundo Grandela trata-se da primeira empresa de componentes automotivos a assinar acordo do tipo no País.
A iniciativa, que a princípio terá duração de dez anos, permitirá que a empresa reduza suas emissões de CO2 em 10 mil 750 toneladas por ano, quantidade que seria absorvida por 136 mil 558 árvores.