São Paulo – As indústrias de máquinas e equipamentos encerraram o ano passado com desempenho 5,9% inferior ao de 2021, ao registrar receita líquida de R$ 310,4 bilhões, interrompendo, assim, ciclo de crescimento iniciado em 2018. O cenário de juros altos e de eleição presidencial encareceu o custo do crédito e trouxe incertezas, segundo a Abimaq, que divulgou os dados na terça-feira, 31.
As quatro altas consecutivas haviam promovido recuperação de 38,1% nas vendas com relação a 2017, ano considerado o fundo do poço do setor, quando a receita foi bastante reduzida. Comparado à media dos melhores anos do segmento, registrados de 2010 a 2013, porém, a receita líquida obtida no ano passado ainda está 27,7% aquém.
Embora 2022 tenha começado com vendas 4% menores havia a expectativa de retomada no decorrer do ano, o que não aconteceu. Ao contrário: a inesperada desaceleração do segundo semestre, que contou com queda acentuada nos últimos três meses de 10% na receita, manteve o fechamento do ano negativo.
Cristina Zanella, gerente de economia e estatística da Abimaq, apontou que os juros altos foram o grande vilão do setor: a Selic avançou de 10,75% para 13,75% ao ano ao longo do ano, contexto que somado às incertezas inerentes ao processo eleitoral derrubaram também a projeção de investimento para este ano.
“Mesmo o segmento de máquinas agrícolas, que teve desempenho melhor, no último trimestre registrou forte desaceleração, o que comprometeu o resultado total das vendas.”
O pior desempenho foi registrado nas vendas direcionadas ao mercado local, que retraíram 7%, totalizando R$ 245,8 bilhões.
Comércio exterior — Quanto às exportações a gerente assinalou que as vendas, tanto em unidades físicas como em dólares, apresentaram resultado muito positivo, com altas de 6,5% e 21%, respectivamente.
Em oito dos doze meses do ano passado os embarques renderam mais de US$ 1 bilhão, algo que só havia sido visto em 2012. Desta forma somaram US$ 12,2 bilhões, o que correspondeu a mais de 20% da receita total do setor.
“Mas, quando convertemos estes valores aos preços em reais, que é o que efetivamente entra nos caixas das empresas, pela valorização do câmbio, boa parte desse crescimento foi anulado, o que refletiu em menor incremento da receita total.”
O maior avanço foi visto no embarque de máquinas para agricultura, que registrou aumento de 32,1% e respondeu por 16,1% de tudo o que foi exportado. O ramo de máquinas para logística e construção civil, que correspondeu a 30,8% do total, cresceu 22,5%.
Destaque para a demanda da América do Sul, que ampliou as compras em 36,3%, sendo que a Argentina, mesmo com a restrição do pagamento em dólares, expandiu a demanda por máquinas brasileiras em 60,9%.
As importações foram ampliadas em 13,8%, totalizando US$ 24 bilhões. Segundo Cristina Zanella a demanda do mercado de reposição justifica esta alta. Máquinas para petróleo e energia renovável e máquinas agrícolas obtiveram os maiores incrementos em 2022, de 49,7% e 49,5%, respectivamente.
A maioria dos equipamentos vem da China, que em 2021 desbancou os Estados Unidos e no ano seguinte se consolidou como a principal origem dos maquinários. No ano passado a participação dos produtos chineses foi de 27,8%, e de 17,4% a dos estadunidenses.
Para entender a escalada da China em 2007 seu peso era de 6,9% do total, ou seja, galgou 20 pontos porcentuais em quinze anos. Ao mesmo tempo a fatia dos Estados Unidos, que era de 22,4%, encolheu 5 pontos.