São Paulo – A falta de chips voltou a afetar a produção da Volkswagen, uma das mais prejudicadas no ano passado pela crise dos semicondutores. A companhia suspenderá a produção em três de suas quatro fábricas no Brasil por dez dias, mantendo apenas as linhas de Taubaté, SP, que está em ritmo de início da produção do Polo Track, operando normalmente em seus dois turnos.
Na Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP, a produção de Polo, Nivus, Saveiro e Virtus será interrompida de 22 de fevereiro a 3 de março, mesmo período em que o T-Cross deixará de ser montado em São José dos Pinhais, PR. A manufatura dos motores em São Carlos, SP, ficará parada de 20 de fevereiro a 1º de março.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC confirmou à reportagem que o pedido de férias coletivas foi protocolado, uma exigência da legislação. Segundo a montadora “os dias de parada já estavam programados desde o ano passado e fazem parte da estratégia da montadora de flexibilização nos processos produtivos devido ao fornecimento de componentes”.
O diretor administrativo do sindicato do ABC, Wellington Damasceno, afirmou que a entidade já esperava que pudesse haver paradas este ano pela permanência das dificuldades no fornecimento de semicondutores. Ele assinalou que estão faltando os mais diversos componentes, principalmente rádios, barras de direção e farois:
“A Volkswagen está buscando alternativas quanto aos rádios, mas ainda é um problema. Com relação às barras de direção, por mais estranho que pareça, por se tratar de uma peça metálica, ela possui um chip de comando que está em falta. E os farois são de LED”.
Damasceno justificou que, embora a linha da Saveiro sofra menos com o cenário, por ser um modelo que consome quantidade bem inferior de semicondutores, será preciso parar toda a produção por causa do mix: “Não é possível fabricar apenas duzentos carros em vez dos oitocentos, que é o volume produzido diariamente”.
Hoje, na Anchieta, há 8,6 mil empregados, sendo que na linha de produção da unidade trabalham em torno de 4,5 mil. Destes cerca de 3 mil ficarão em casa e outros setecentos, que operam na oficina, vão para a fábrica para recuperar os veículos que já estão estocados à espera da chegada de componentes.
“No fim temos dois problemas: falta de chips para iniciar a produção e também para concluir os que já estão no aguardo de algum componente para que possa chegar à concessionária e ser comercializado.”
Oferta global de chips segue problemática
Na avaliação do sindicalista o problema persiste porque a oferta ainda está concentrada em Taiwan e na China, ao passo que a demanda continua aumentando. E os fornecedores ficam com as mãos atadas por causa do problema global, ainda que as barras de direção venham de Sorocaba, SP, e os rádios de Manaus, AM, e do Leste Europeu.
“O setor automotivo não é o maior consumidor de chips no mundo. Perde de longe para outros segmentos, como o eletroeletrônico, e diante da falta de reposição da capacidade de produção, e da inexistência de semicondutores no Brasil, ficamos reféns da estratégia global, inclusive das empresas.”
E trata-se de um movimento crescente e sem volta, pois, quanto mais novos e tecnológicos forem os modelos, a exemplo dos recém-lançados Polo, Nivus e Virtus, maior a demanda por chips. Apenas para efeito de comparação um Gol simples usa sete semicondutores enquanto que esses veículos requerem, em média, quarenta.