São Paulo – Durante a pandemia a indústria discutiu muito a importância da localização da cadeia de suprimentos e até hoje, três anos depois, o setor automotivo ainda sofre com a falta de fornecimento de chips importados, que paralisa frequentemente as linhas de produção.
No auge da crise pandêmica a indústria se uniu para o fornecimento de equipamentos médicos hospitalares. Essa ação foi lembrada por Erwin Franiek, diretor da SAE e presidente do SAE-4Mobility, na abertura do painel A Necessidade de Crescimento da Indústria e as Oportunidades Abertas para a Nacionalização, em que foi mediador, durante o Seminário Megatendências 2023 – O Novo Brasil, organizado pela AutoData Editora.
A rápida criação de uma cadeia antes inexistente de equipamentos hospitalares mostrou que, se o Brasil colocar metas claras e tiver uma demanda bem definida, conseguirá reagir e ter toda estrutura produtiva bem dimensionada para fazer itens de alta tecnologia: “Esta experiência na pandemia nos permite escolher o que for importante para o Brasil, e se isso for uma decisão de País, a gente faz. Temos competência, recursos e materiais. É só nos organizarmos”.
“Precisamos olhar para a frente”, afirmou Margarete Gandini, coordenadora geral de fiscalização de regimes automotivos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, que chamou a atenção para as oportunidades abertas para a nacionalização e para a integração das cadeias globais de valor. Ela divide os novos desafios em quatro pilares: eficiência energética e reciclabilidade de materiais, inovação e nacionalização, economia circular [renovação de frota] e economia verde na propulsão e descarbonização, e o ecossistema de logística e mobilidade.
“Estas são as quatro grandes frentes e oportunidades para as indústrias instaladas no País.”
De acordo com ela o MDIC tem também em seu planejamento a definição da metodologia da pegada de carbono dos produtos fabricados no País, para ser implementada em 2027: “Esse indicador nos dará uma vantagem competitiva na produção nacional”.
Gandini ainda acrescentou que o programa de renovação de frota passa por ajuste no decreto e sofreu atraso com a mudança de governo: “Deve sair em abril a chamada do projeto piloto para ônibus e depois, assim que formar o Conselho, receberemos as propostas de iniciativas nacionais e regionais”.
Mauro André de Souza, gerente geral de mercado auto da ArcelorMittal Brasil, citou duas recentes decisões da companhia que vêm ao encontro das necessidades de nacionalização. No fim deste ano a companhia inaugurará mais uma linha e adicionará de 500 a 600 mil toneladas/ano à sua capacidade para atender a futuras demandas de aço de alta resistência.
A aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém, no Ceará, que passa a ser chamada de ArcelorMittal Pecém, também visa a agregar volume com aços resistentes em uma região que é um polo promissor de hidrogênio verde: “Temos aço, temos oportunidades de desenvolvimento agregando volume na produção, de maneira sustentável”.
Ao participar de um projeto do Programa Rota 2030 a ArcelorMittal desenvolve para um cliente um aço específico para uma lataria, em fase de testes. “Se for bem-sucedido, teremos um aço mais resistente, de menor espessura e com redução de peso para o produto de nosso cliente, e todos ganharemos com a redução de carbono”.