São Paulo – A indústria brasileira de ônibus elétricos está pronta para atender à demanda das prefeituras mas enfrenta desafios de infraestrutura para crescer. O tema foi discutido no painel que contou com Bruno Paiva, diretor da divisão de ônibus elétricos da BYD, Walter Barbosa, vice-presidente de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz, e Ricardo Portolan, diretor de operações comerciais de mercado interno & marketing da Marcopolo, durante o Seminário Megatendências 2024, organizado por AutoData de 19 a 20 de março, em São Paulo.
Eles disseram que a indústria tem capacidade de atender ao pedido de 2,6 mil unidades de ônibus elétricos para a cidade de São Paulo: o gargalo está na infraestrutura e na entrega da alta tensão.
De acordo com Paiva é complexo converter as garagens de ônibus de média para alta voltagem. Barbosa concordou que falta infraestrutura de alta tensão em São Paulo: “Dependendo da localização requer investimentos que variam de R$ 50 milhões a R$ 120 milhões para que aquela garagem comporte mais de cinquenta carros carregando ao mesmo tempo. Caso contrário não consegue operar”.
Na Capital paulista a Mercedes-Benz comercializou cinquenta ônibus elétricos. De acordo com o executivo a Enel se comprometeu a instalar infraestrutura de alta voltagem em um prazo que deve demorar de doze a quinze meses, o que derruba a promessa de que 2,6 mil unidades possam circular já neste ano.
Por características diferentes Portolan acredita que a jornada no Brasil deve ser diferente com relação a outros países: “O ponto é saber qual será a velocidade e em quanto tempo a infraestrutura chegará”.
A eletrificação num País de dimensões continentais terá variações conforme a região: em algumas cidades de forma mais acelerada e, em outras, mais devagar: “A Marcopolo até acredita em outras soluções, na linha do eclético, com alternativas diferentes diante das complexidades”.
Apesar das dificuldades no segmento urbano Paiva concordou que a “chave já virou”. Disse que é preciso uma adequação dos financiamentos de forma a que haja mais tempo para que o elétrico se pague.
Barbosa considerou que o momento ainda não aconteceu, e trouxe um recado aos fornecedores: “A chave está querendo virar, isto acontecerá, mas será gradativa. Temos uma longa caminhada e a infra é o ponto mais sensível”.
Para ele o financiamento apontado pela BYD é realmente uma dificuldade, mas para isto as empresas poderão contar com o PAC da Mobilidade, que injetará R$ 48,8 bilhões a serem gastos com renovação de ônibus, trem, metrô e projetos de infraestrutura.
“Deste total R$ 6,6 bilhões serão destinados à renovação de frota com ônibus urbanos, e metade disso para ônibus a diesel e a outra metade, R$ 3,3 bilhões, para ônibus elétricos, ambos distribuídos em 2024 e 2025”, contou o vice-presidente da Mercedes-Benz, indicando que o mercado precisa se preparar para os próximos dois anos, que serão muito positivos.