São Paulo – Diante do movimento de consolidação da indústria local com aquisições por empresas internacionais observado nos últimos tempos o nearshoring, ou seja, a nacionalização da produção, torna-se uma tendência no mercado brasileiro, o que reflete em menor presença chinesa em componentes.
A análise foi feita durante o Seminário Megatendências 2024, realizado por AutoData de 19 a 20 de março, por Werner Roger, CIO da Trígono Capital, gestora independente focada em empresas de menor capitalização, que possui R$ 3 bilhões sob sua tutela, sendo 40% destes recursos vindos do setor automotivo.
A terceirização da produção, como usinagem, montagem, pintura, powertrain e sistemas completos, também deverá se expandir na esteira da maior localização. Com este mesmo pensamento de produzir onde se consome fornecedoras nacionais têm se tornado multinacionais, como WEG, Tupy, Marcopolo, Iochpe-Maxion e Randoncorp.
“A consolidação do movimento de internacionalização, com fábricas no Exterior, modelos globais e especialização regional transformará a indústria automotiva, que deverá crescer cada vez mais e acompanhar a transição global.”
Roger assinalou que esse comportamento embute o desenvolvimento de tecnologias em laboratórios nacionais e a exportação destas inovações. Ele citou o uso do nióbio brasileiro por parte da Randoncorp para a produção de chassi de caminhão mais leve para comportar solução da WEG de reboques híbridos que gera sua própria energia. Exemplificou, ainda, com uma roda especial para veículos elétricos da Iochpe-Maxion.
“O Brasil é muito criativo e possui recursos humanos para ser ator importante em novas tecnologias e em soluções com empresas brasileiras, e não trazer tecnologia de fora, principalmente da China, sendo que podemos desenvolvê-las internamente.”
Uma das apostas, ressaltou o executivo, deverá concentrar-se no híbrido a etanol. Para isto é preciso que o governo incentive o uso de combustíveis renováveis por meio da redução de impostos como o IPVA: “Quero ver qual governo terá a coragem de reduzir primeiro a alíquota de veículo movido a etanol e a biometano”.
Para Roger a solução pode ser exportada para países que possuem necessidades locais parecidas com as brasileiras, como a Índia, países latinos e africanos: “É fundamental, porém, que haja volume para justificar o investimento. Por isto a indústria precisa ser estimulada, inclusive por meio da renovação da frota movida a estes combustíveis”.
O executivo lembrou que há espaço para reduzir a taxa básica de juros dos atuais 11,25% ao ano a até 7% ao ano em dezembro, o que contribuiria com o aumento da arrecadação, da geração de emprego e com a atração de investimentos. A aposta do mercado financeiro é que a Selic será reduzida a 10,75% ao ano na quarta-feira, 19, e o Itaú projeta que o índice não ultrapasse 9,25% em dezembro.