São Paulo – O cenário da econômico sinaliza que a indústria de caminhões voltará a crescer após um 2023 de retração, na expectativa de redução de juros e de programas de incentivos. Com projeções positivas Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, e Achim Puchert, presidente da Mercedes-Benz, participaram do Seminário Megatendências 2024, organizado por AutoData de 19 a 20 de março, em São Paulo.
Puchert tem mais otimismo nas vendas de caminhões com a queda de juros, crescimento do varejo e setor de construção.
Cortes acrescentou que quatro fatores que limitaram a produção e vendas em 2023 transformaram-se em pontos positivos: o País vive hoje uma situação política e econômica mais estável do que o início do ano passado e a projeção do PIB, que no início de 2023 era baixa, 0,6% ou 0,7% e foi revertida para 2,9%, interferiu nos investimentos. Para este ano as expectativas são melhores: as taxas de juros, que estavam altas e hoje estão com tendência de queda e, por fim, o maior motivo, cita Cortes, demorou, mas o consumidor entendeu que o aumento de preço do Euro 6 se justificava com a economia de combustível e maior eficiência do caminhão versus o Euro 5.
“Os inibidores de vendas de 2023 viraram fatores favoráveis este ano e compartilhamos com a Anfavea a expectativa de crescimento de 15%. Acredito que a partir de abril os volumes serão maiores.”
Puchert lembrou que a reforma tributária, junto com os programas de estímulo à competitividade e à descarbonização, serão importantes para a maior competitividade.
Eletrificação já é realidade
A VW Caminhões e Ônibus foi pioneira, e ainda a única, no desenvolvimento de um caminhão eletrificado 100% nacional, o VW e-Delivery. Enfrentou desafios na jornada de aprendizado do cliente e está utilizando esse know-how no ônibus elétrico, que começa a ser produzido no segundo semestre: “O que justifica o veículo elétrico é seu custo operacional, que representa a metade de um modelo a diesel. Tem preço maior mas compensa no custo operacional. A equação elétrico diesel é mais vantajosa no ônibus, mas ainda é desafiadora”.
A Mercedes-Benz por sua vez foi pioneira na produção do ônibus elétrico, chassi 100% brasileiro e exportável. A companhia seguiu um caminho diferente da eletrificação com foco no chassi de ônibus em primeiro lugar porque viu no segmento a maior possibilidade de contribuir com as condições de meio ambiente na cidade: “Os ônibus representam 7% das emissões de CO2 no meio ambiente e nós somos responsáveis pela descarbonização”.
A infraestrutura também é ponto chave para a Mercedes-Benz, que vendeu poucos ônibus, cinquenta na cidade de São Paulo e quinhentos veículos no total. Puchert ressaltou que “não é só vender: é preciso prestar apoio à infraestrutura, apoiar os clientes, ensinar a operar e a fazer a manutenção. Isto não é atrativo financeiramente, precisamos de apoio do governo, no financiamento e compra de energia”.
Cortes arrancou risos da plateia ao provocar o colega alemão: “Não vemos muitos ônibus elétricos nas ruas porque a Volkswagen ainda não lançou o seu!”.
O oportunismo chinês
Com relação ao programa Mover Purchet questionou como o Brasil vai se posicionar em relação ao mundo: “Podemos exportar nossos produtos, temos potencial de produtos 100% exportáveis, mas precisamos de apoio do governo. Precisamos fazer com que nossos produtos sejam mais relevantes do que os dos concorrentes, como os chineses”.
Cortes alfinetou os chineses, que são oportunistas: com uma indústria com capacidade ociosa eles exportam seus produtos para o Brasil a preços não compatíveis com nosso ambiente: “Se vierem para cá produzir com custo Brasil e com as dificuldades daqui, temos tudo para competir com eles, comparando em condições normais”.
Puchert complementou que assim como a China o Brasil tem fome de crescer, e a vantagem e a desvantagem de ter um mercado mais protetor: “A competição não me assusta, mas precisa ser justa, algo comparável e nas mesmas condições”.
Para a Mercedes-Benz, apesar dos desafios, o cenário é animador: há oportunidades com os Euro 6, com a descarbonização e com a responsabilidade social de trabalhar com melhorias em meio ambiente. A Volkswagen acredita que o segmento caminha para chegar em breve a 200 mil unidades desde que haja estabilidade política, crescimento econômico e medidas de fomento para descarbonização. Como um Finame Verde de maior duração, que potencialize a renovação de frota e que contribua para o meio ambiente.