Centro de Desenvolvimento em Camaçari está em expansão e Mover pode atrair novos projetos globais para cá
Camaçari, BA – Quando a notícia de que a Ford deixaria de desenvolver carros compactos e sedãs para focar em SUVs e picapes chegou ao Centro de Desenvolvimento da Bahia, onde ainda eram produzidos Ka e EcoSport, o diretor Alexandre Machado se preocupou: ele sabia da capacidade dos novecentos engenheiros empregados no Brasil de colaborar e liderar projetos globais. Mas como a expertise local eram justamente os segmentos dos quais a companhia estava se retirando a estrutura corria risco.
E era uma estrutura que não se limitava aos portões da fábrica de Camaçari, BA. A Ford liderou uma revolução automobilística e industrial na Bahia, formando alianças com órgãos como o Senai e ajudando a levantar projetos como o Cimatec, um grande polo de conhecimento e formação de inteligência industrial.
“Quando cheguei aqui, no começo dos anos 2000, não havia cultura industrial”, relatou Machado, que trabalhou na Ford durante o projeto de construção da fábrica, morou no México, Estados Unidos e Reino Unido e retornou a Salvador, BA, onde reside atualmente e lidera a área de desenvolvimento de produto da Ford América do Sul. “Muita gente trabalhava no setor de petróleo e gás, mas não tinha muita indústria. A Ford foi uma das precursoras.”
Todo este histórico e a competência da engenharia local foram apresentados à matriz para que fosse mantida a área no Brasil. Pouco depois veio a notícia de que as fábricas locais seriam fechadas, mas a engenharia persistiu. Hoje são 1,5 mil engenheiros e faturamento de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões por ano, trabalhando em carros fabricados em outras localidades. Expertise em desenvolvimento de software e liderança de projetos de motores globais, o 3.0 V6 diesel que equipa a Ranger, a família de 2,3 litros e 3 litros a gasolina e o motor 1,5 litro a gasolina.
Cimatec Park, em Camaçari. Foto: Divulgação.
“Já não cabemos na nossa estrutura atual”, disse Machado em um dos prédios ocupados pela Ford no Cimatec Park, em Camaçari – a companhia deixou o terreno onde era a fábrica, atualmente na posse da BYD. O diretor, que projetou crescimento de 20% ao ano para a área, aponta para o lado: “Estamos construindo outro prédio a cerca de 2 quilômetros daqui. A matriz confia na Bahia”.
Cimatec Park
Antes de falar da estrutura desta nova etapa da Ford no Brasil é preciso explicar o que é o Cimatec Park. Uma das sedes do Senai Cimatec, instituição que se tornou referência em formação, pesquisa e desenvolvimento industrial e que faz parte do Sistema Fieb, Federação das Indústrias do Estado da Bahia, é um grande complexo tecnológico que atenderá a diversos segmentos industriais, como automotivo, aeroespacial, eólico, mecânico, farmacêutico.
Ocupa área de 4 milhões de m2, dos quais em torno de 10% foram construídos, em uma área do Polo Industrial de Camaçari. Completa a estrutura já conhecida do Senai Cimatec em Salvador, que oferece dinamômetro e outros laboratórios, que até são usados por outras montadoras.
Apenas uma pequena fração do que está projetado para o complexo já foi construído. Em meio aos prédios já de pé avista-se canteiro de obra de onde virá a expansão até o início do ano que vem. O novo prédio da Ford faz parte do projeto.
A estrutura da Ford no Cimatec
O Centro de Desenvolvimento e Tecnologia da Ford opera no Cimatec Park desde 2002 e é um dos nove mantidos pela companhia no mundo. Ali, especialmente, são desenvolvidos softwares e soluções para motores a combustão. Os 1,5 mil profissionais no Brasil dedicam 85% do tempo a projetos globais.
Alexandre Machado. Foto: Divulgação.
“A atual estrutura ficou pequena para a Ford e, então, parte dos engenheiros trabalha boa parte do tempo remoto, eles levam o laboratório para casa”, contou Machado, destacando que muitas das soluções que permitem este trabalho remoto foram desenvolvidas pelos próprios funcionários do Centro. “É conveniente para eles trabalharem em casa e para nós também, porque hoje falta espaço.”
Foto: Divulgação.
Mas a ideia é juntar todo mundo no espaço: no início de 2026 a Ford espera inaugurar o novo prédio com espaço para 1 mil pessoas, incluindo escritórios, laboratórios de desenvolvimento, área de treinamento e auditório.
A reportagem da Agência AutoData visitou as instalações de Camaçari, onde são desenvolvidos softwares, soluções de powertrain e está instalado um curioso espaço de desmontagem de veículos: as peças são retiradas, uma a uma, de modelos Ford e da concorrência, catalogadas e analisadas. O desafio passa a ser encontrar soluções para redução de peso e materiais alternativos para substituir os componentes em novas fases dos projetos.
Machado espera que, com o programa Mover, mais projetos globais possam chegar ao Brasil, que poderá oferecer custos melhores para o desenvolvimento com os incentivos previstos na política industrial: “Nossa intenção é gerar mais empregos aqui. Com o abatimento de imposto previsto no Mover conseguimos ser mais competitivos, ganhar projetos e crescer”.