São Paulo – Pressionado pelos potenciais reflexos gerados pelo imposto de 25% sobre importações do México e do Canadá na economia, que entrariam em vigor nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, postergou sua decisão, ao menos para a indústria automotiva. A pedido de montadoras de Detroit ele anunciou, por meio da secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, que durante um mês isentará da tarifa os veículos cobertos pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá.
O recuo de Trump ocorre após alerta de analistas e investidores acerca das perdas geradas nos lucros do chamado Detroit 3, as três grandes montadoras do país, General Motors, Ford e Stellantis. Para especialistas ouvidos pela publicação local Automotive News os reflexos dos impostos estão sendo subestimados.
No ano passado a General Motors lucrou US$ 6 bilhões, a Ford US$ 5,9 bilhões e a Stellantis US$ 5,7 bilhões. De acordo com a Bloomberg Intelligence, as tarifas de Trump poderão eliminar US$ 6,2 bilhões dos lucros das montadoras europeias em 2025 – incluindo a Volkswagen nas mais vulneráveis – equivalente aos ganhos da GM em 2024.
A GM, aliás, será particularmente afetada, pois produz 840 mil veículos por ano no México e 150 mil no Canadá. Ao todo, em torno de 3,6 milhões de unidades foram importadas destes dois países no ano passado, de acordo com S&P Global Mobility. E, neste início de ano, um quarto das vendas de veículos nos Estados Unidos teve a mesma origem.
Cerca de 25% dos veículos vendidos pela GM foram montados no México, taxa que é de 23% para a Stellantis e de 18% para a Ford. Na Volkswagen o porcentual chega a 50%. Unidades do Canadá representaram 11% das comercializações da Stellantis nos Estados Unidos, 5,2% da GM e 3,3% da Ford.
Mesmo a Tesla não passará ilesa, de acordo com analistas, uma vez que muitos de seus veículos são fabricados com componentes de outros países, principalmente do México, de onde vêm de 20% a 25% de suas peças.
Além do impacto esperado com o aumento dos preços dos veículos importados desses países, a partir da incorporação da alíquota, que entraria em vigor na terça-feira, 4, outro reflexo foi a queda nas ações automotivas. Os papéis da GM caíram 4,5%, os da Stellantis, 4,4% e, os da Ford, 2,9%.
Na outra ponta, o UAW, sindicato que representa os trabalhadores das montadoras nos Estados Unidos, criticam o Detroit 3 por usar cada vez mais fábricas no México, com custos menores de mão de obra. A entidade declarou que “tarifas são ferramentas poderosas para desfazer a injustiça de acordos comerciais antitrabalhadores”.
De acordo com o UAW o sindicato está “feliz em ver um presidente estadunidense tomar medidas agressivas para acabar com o desastre do livre comércio que caiu como uma bomba na classe trabalhadora” e que está ansioso para trabalhar com a Casa Branca para “moldar as tarifas de automóveis em abril”.