Oito marcas participaram de fórum organizado pela Quatro Rodas: Jac, Zeekr, Omoda Jaecoo, GWM, BYD, SAIC, GAC e Leapmotor.
São Paulo – A explicação para a chegada de tantas marcas chinesas ao mercado brasileiro nos últimos meses está nos números: o Brasil é sexto maior mercado do mundo, com vendas projetadas na faixa de 2,8 milhões de unidades, somados leves e pesados, em 2025.
“Não existe marca global, seja asiática ou europeia, que não tenha o Brasil no radar”, disse Ronaldo Znidarsis, CEO da Zeekr. Ele participou do Fórum Direções: Conexão Brasil-China, organizado pela revista Quatro Rodas na terça-feira, 25, em São Paulo. Henrique Sampaio, diretor de marketing e produto da SAIC, que planeja começar a vender seus carros no segundo semestre, concordou e acrescentou: “O brasileiro absorve muito rápido as novidades. E hoje o que há de mais novo na indústria automotiva vem da China”.
Para fazer companhia à Chery, agora Caoa Chery, e Jac, já por aqui há mais de uma década, chegaram GWM e BYD e, mais recentemente, anunciaram início de operações, somente no segmento de leves Neta, Zeekr, Omoda Jaecoo, Leapmotor, Geely, GAC e SAIC – e há outras em tratativas avançadas e em outros segmentos, como a Foton.
“Temos contrato assinado com duas marcas e estamos fechando com uma terceira, de vários segmentos”, afirmou Oswaldo Ramos, consultor da PRA Consultoria e Serviços Automotivos. “Não posso revelar os nomes pelos contratos de confidencialidade. Mas existem mais negociações.”
A atratividade do mercado brasileiro serve ao planejamento, na China, de ampliar suas exportações de veículos devido ao excesso de capacidade. Segundo Cláudia Trevisan, diretora executiva do CEBC, Conselho Empresarial Brasil China, de sexto em 2019 a China passou a maior exportador do mundo no ano passado, superando Estados Unidos, Alemanha, Japão, Coreia do Sul e México: “Eles miram a Rússia, de onde as montadoras ocidentais saíram [por causa da guerra com a Ucrânia], os países do Golfo, a África e a América Latina”.
Esta visão para o Exterior mexe também no planejamento de desenvolvimento de produto: os chineses começaram a pensar em carros que não sejam para seu público doméstico, segundo Sampaio, da SAIC: “As áreas overseas das empresas chinesas são as que mais crescem. Com a competitividade do mercado local, onde existem mais de 150 marcas, é na exportação em que estão as maiores margens. Nos bastidores eles trabalham mais em desenvolvimento de híbridos, já de olho no Brasil”.
Preço por aqui não deverá ser problema, mesmo com a recomposição do imposto de importação para eletrificados.
“Os planos da GAC foram feitos já prevendo o retorno do imposto”, disse Marcello Braga, diretor de marketing da empresa que tem planos de iniciar sua operação ainda no primeiro semestre. “Haverá esforço para não repassá-lo ao consumidor e, mais à frente, pretendemos a produção local para escapar desta questão tributária.”
Produzir no Brasil está nos planos
A Caoa Chery é, hoje, a única a produzir carros, em Anápolis, GO – e tem uma fábrica parada em Jacareí, SP, na qual a Omoda Jaecoo, que é do Grupo Chery, está de olho. Mas quase todas divulgam plano de produzir seus veículos por aqui.
Das que participaram do Fórum Quatro Rodas as exceções são a Jac, que chegou, no passado, a anunciar produção em Camaçari, BA, mas abortou o plano, e a Zeekr, que pertence ao Grupo Geely e foca no segmento de luxo. A GAC tem plano de investir US$ 1 bilhão, a BYD constrói sua fábrica na cidade onde a Jac cancelou seus planos e a GWM programa ainda para o primeiro semestre a inauguração de sua unidade em Iracemápolis, SP. A Leapmotor, que integra a Stellantis, não confirmou oficialmente, mas tem à disposição toda a estrutura do grupo por aqui.
E a SAIC, que entrará com a marca MG, disse que seus planos serão divulgados no segundo semestre, segundo Sampaio: “Quem vem com intenção de entrar forte no mercado brasileiro precisa ter uma fábrica”.
No início de abril a Geely, que fez parceria com a Renault, revelará seu primeiro carro e seu planejamento de vendas e produção local, na fábrica de São José dos Pinhais, PR.
“Nós vendemos quase 30 mil unidades no ano passado e temos uma fábrica com capacidade para 50 mil veículos por ano”, disse Ricardo Bastos, diretor de assuntos institucionais da GWM. “Inauguraremos uma fábrica com mais de 50% de capacidade usada.”
Até que ponto é uma invasão chinesa?
Para Sérgio Habib, presidente da Jac Motors, os chineses estão chegando em grande número de marcas mas não devem ameaçar os volumes das montadoras já consolidadas: “Para competir aqui, de igual para igual, é preciso ter um hatch com motor 1.0 flex. Sem essa jabuticaba, sem carros com preços inferiores a R$ 160 mil, a chamada invasão chinesa não deverá superar os 10% do mercado”.
Ele alertou também para as vendas de 100% elétricos, que têm caído – embora a dos híbridos, puxados pelos MHEV da Fiat, e dos PHEV tenham seguido trajetória oposta: “Ao fim deste ano os elétricos não representaram mais do que 2,3% das vendas”.