São Paulo – Apesar de a Frasle Mobility ter exposição importante no mercado estadunidense a sobretaxação a autopeças importadas pelo governo de Donald Trump pouco ou nada afetarão a alta competitividade da companhia naquele país, segundo afirmou o seu COO, Anderson Pontalti: “Mesmo que a tarifa subisse a 30% ou 40% ainda seremos competitivos nos Estados Unidos”.
Para o executivo chefe de operações da Frasle Mobility – que tem 25 marcas de autopeças sob seu guarda-chuva no Brasil e no Exterior – e também vice-presidente da controladora Randoncorp responsável pela área internacional, o tarifaço é visto “mais como oportunidade do que risco” devido ao domínio tecnológico da empresa sobre seu principal produto, partilhas e lonas de freios, e matérias-primas relacionadas.
Pontalti foi categórico: “A produção de materiais de fricção [pastilhas e lonas de freios] praticamente inexiste nos Estados Unidos, o país não é competitivo. Também é muito fraca no México, porque depende de mineração de matérias-primas que nós temos no Brasil e eles não têm lá”.
Oportunidade de crescimento
Desde 2008 a Frasle tem fábrica nos Estados Unidos, em Prattville, Alabama, que já passou por duas ampliações e se for necessário poderá produzir mais, atestou Pontalti: “Com as tarifas maiores impostas a outros países a demanda sobre nossos produtos deve até crescer lá e poderemos aumentar a produção”.
O executivo informa que, atualmente, a exposição das receitas internacionais da Frasle ao mercado estadunidense gira em torno de US$ 180 milhões por ano, sendo US$ 90 milhões em componentes exportados do Brasil e outros US$ 90 milhões faturados no próprio país, “e isto porque o mercado está fraco: em condições normais este faturamento chega a US$ 230 milhões”.
Uma das controladas da Frasle, a fabricante de discos de freio Fremax, já está aumentando exportações para os Estados Unidos graças a um novo produto com tecnologia única e maior valor agregado: discos com revestimento especial de nanopartículas de nióbio, que aumenta em três vezes a durabilidade do componente que, naquele país, sofre com a corrosão provocada pelo sal espalhado nas ruas para derreter a neve nos meses de inverno.
Outra vantagem da Frasle naquele mercado é que o grosso do fornecimento de lonas e pastilhas é para veículos pesados, acima de 3,5 toneladas, e a sobretaxação imposta a este segmento é de 10%, subindo a 12,5% ao se somar com a tarifa tradicional já aplicada a autopeças importados nos Estados Unidos. Para veículos leves a sobretaxa, prevista para ser aplicada a partir de 3 de maio, é de 25%, subindo, portanto, para 27,5%.
“Olhando para o cenário hoje, porque há mudanças o tempo todo, ainda seremos competitivos mesmo com estas tarifas.”
Planos revisitados
Presidente da Randoncorp – e já indicado para ser o novo CEO a partir de setembro, após a aposentadoria de Sérgio Carvalho –, Daniel Randon reconheceu que, para o bem ou para o mal, o tarifaço de Trump deverá afetar alguns planos da companhia, mas salientou que os investimentos em tecnologia e a internacionalização da companhia nos últimos anos são fatores que protegem o caixa com produtos de maior valor agregado e diversificação das receitas em diversos partes do mundo – a empresa tem presença em 125 países e 36 unidades industriais, quinze delas fora do Brasil.
“Após as notícias das tarifas revisitamos alguns projetos e esperaremos a volatilidade baixar”, afirmou Randon. “De acordo com o que acontecer poderemos acelerar a produção em nossas unidades nos Estados Unidos e reduzir na Europa, por exemplo. Mas seguimos com a estratégia de não depender de um só país, assim diluímos os riscos.”
No balanço de riscos e oportunidades Daniel Randon avaliou que os pesos estão divididos: “Se o Brasil souber fazer o jogo teremos mais oportunidades, mas também enfrentaremos o risco de a China despejar seus produtos em outros países”.