São Paulo – O transporte brasileiro caminha para um futuro tecnologicamente diversificado, no qual eletrificação, biometano e biodiesel coexistirão como alternativas complementares para a descarbonização. A avaliação é de executivos da Scania e da BorgWarner, que participaram do Seminário Brasil Eletrificação e Descarbonização, promovido por AutoData. Eles defendem a abordagem eclética para enfrentar os desafios ambientais do setor, responsável por 94% das emissões da mobilidade no País.
Para Gustavo Bonini, diretor institucional da Scania Latin America,o Brasil tem posição privilegiada nessa transição:
“O futuro não será apenas elétrico: será eclético. Conseguimos lançar mão, como País, além da eletrificação a possibilidade de usar de maneira absolutamente efetiva os biocombustíveis”.
O plano precisa considerar as vocações regionais do País. No Centro-Oeste, rico em produção de soja, o biodiesel se destaca. No Interior paulista a cana-de-açúcar favorece o biometano. Já nos grandes centros urbanos, onde a infraestrutura elétrica está consolidada, os elétricos ganham espaço.
“Para cada setor temos uma vocação. Não há problema em dispor de todas estas tecnologias. Aliás, é um ativo nosso.”
Produção local de baterias
A BorgWarner, que produz baterias para ônibus elétricos no Brasil, planeja expandir sua atuação local. Marcelo Rezende, diretor de sistemas de baterias, disse que a companhia estuda trazer para o País a fabricação de baterias LFP, fosfato de ferro lítio, tecnologia mais segura e com densidade energética comparável às atuais baterias NMC, níquel, manganês e cobalto.
“Já produzimos a amostra, estamos fazendo toda a validação. Começaremos a produzir já em 2026 esta bateria, ainda fora do País, e temos a intenção de trazer para cá a sua produção.”
A preocupação com o ciclo completo das baterias também está no radar: “As nossas baterias duram de oito a dez nos no veículo. Após o uso ela tem condições de ser utilizada em aplicações estacionárias por mais pelo menos uns dez anos, e depois podem ser recicladas com no mínimo 90% de índice de reciclabilidade”.
A economia circular, segundo ele, será fundamental para reduzir a dependência de novos minerais e tornar viável, economicamente, a eletrificação em larga escala.
Velocidade é o maior desafio
Apesar do otimismo com as múltiplas soluções disponíveis os executivos deixaram claro que o maior obstáculo não está na escolha tecnológica: “O grande desafio nosso não é escolher a melhor tecnologia mas conseguir acelerar a descarbonização”.
Os gargalos são múltiplos. Apenas 12% das rodovias brasileiras são asfaltadas, o que dificulta a infraestrutura para eletrificação de longa distância. A frota envelhecida de caminhões representa outro problema crítico: estes veículos não apenas emitem mais CO2 por serem menos eficientes mas, também, poluem localmente com particulados e NOx, óxidos de nitrogênio, afetando diretamente a saúde nas cidades, segundo Bonini.
“Temos as tecnologias, temos que tratar uma questão de infraestrutura e temos que tratar uma questão de frota.”
Para Rezende o papel das empresas é claro: “O importante é que, como País, oferecemos as soluções para descarbonizar, apoiar as montadoras com todas as soluções, com sistemas para reduzir a emissão de carbono, reduzir gastos com o consumo de combustível”.
Os executivos reconhecem que, enquanto o Brasil avança tecnologicamente, a emergência climática exige ação imediata. A estratégia eclética pode ser a solução, mas apenas se for implementada em escala e velocidade compatíveis com as metas de descarbonização.