São Paulo – Representantes dos setores automotivo da Bolívia, Paraguai e Uruguai apresentaram seus mercados e desafios no 7º Congresso de Negócios da Indústria Automotiva Latino-Americana, organizado por AutoData.
A Bolívia, com população de aproximadamente 12 milhões de pessoas, possui frota de cerca de 2 milhões de veículos, incluindo muitos contrabandeados, de acordo com a CAB, Câmara Automotiva Boliviana. O mercado automotivo local é impactado por crise econômica agravada por políticas inadequadas, alta informalidade, restrições às exportações e dificuldades na importação.
“A receita de divisas vem principalmente das exportações de Santa Cruz. As importações despencaram, com projeções de queda de mais da metade, causando concorrência desleal e dificuldades para os importadores, que dependem de pagamentos internacionais e de um mercado altamente inseguro”, contou Luis Orlando Encinas, diretor executivo da CAB.
A economia boliviana, segundo Encinas, enfrenta instabilidade cambial, com uma moeda artificial que chegou a valorizações extremas e queda na receita de divisas. O setor automotivo é altamente dependente de importações de marcas brasileiras, mexicanas e asiáticas, com potencial de crescimento de veículos elétricos e híbridos, impulsionado por incentivos fiscais.
A ausência de fábricas locais e a baixa confiança no governo dificultam investimentos, de acordo com o representante da CAB, enquanto as importações caem drasticamente devido à concorrência desleal e às políticas restritivas.
Encinas lembrou, também, as dificuldades com combustíveis, devido à alta porcentagem de etanol misturado e à baixa qualidade, o que dificulta a oferta de opções variadas e levou a cortes na quantidade e nos modelos de veículos importados.
Paraguai sofre com importação de usados antigos
A situação do setor automotivo não é muito melhor no Paraguai, de acordo com Diego José Lovera, gerente geral da Cadam, Câmara de Distribuidores de Automotrizes e Maquinarias do Paraguai, embora o país tenha um melhor cenário.
A economia está sólida, com crescimento moderado e aumento da renda per capita para cerca de US$ 20 mil, o que ajuda a reduzir a pobreza que hoje é estimada em 18%. A previsão é de crescimento de aproximadamente 4,5% em 2025 e 2026.
A frota de veículos cresce cerca de 6% ao ano, atingindo quase 2 milhões de veículos registrados em 2023, impulsionada pelas importações de veículos novos e usados, principalmente de Brasil, China, Argentina e Coreia do Sul.
A maioria dos veículos importados é usada, com média de idade de 15 a 16 anos, e apenas uma pequena parcela dentro do limite legal de 10 anos. O mercado automotivo é composto por 30% de carros novos e 70% de usados, muitos com mais de 16 anos, o que gera desafios ambientais, de segurança e tributários, além de problemas na fiscalização de veículos antigos e em más condições.
O uso de combustíveis é liderado pelo diesel, seguido pelo flex, gasolina e gás natural, com incentivos fiscais para veículos flex. Desde 2023 há inspeções obrigatórias para veículos usados, mas de critérios frouxos, permitindo a entrada de veículos mais antigos e poluentes. A idade média da frota é alta e envolve alterações mecânicas artesanais sem fiscalização adequada.
O Paraguai busca fortalecer sua cadeia produtiva automotiva por meio de política industrial que incentiva montagem e produção parcial de veículos com componentes regionais ou importados temporariamente, promovendo uma integração com Brasil e Argentina via Mercosul.
Atualmente 48% dos componentes de veículos utilizados são de origem regional ou produzidos no país, com potencial de expansão mediante maior coordenação regional.
Uruguai tem estabilidade e frota minúscula
A Ascoma, Associação de Concessionários de Marcas de Automotores do Uruguai, com 50 anos de atuação, analisou o mercado automotivo uruguaio, destacando sua estabilidade e relação com o crescimento econômico do país, que é impulsionado pela alta do PIB e pelo fortalecimento do setor de energia renovável, com incentivos fiscais para veículos elétricos.
De acordo com Fernando Rocca, secretário executivo da Ascoma, o mercado de veículos novos mantém-se estável, com crescimento em segmentos de caminhões e ônibus, e forte incremento na venda de veículos elétricos, que representam cerca de 20% daquele mercado, favorecidos pelas viagens curtas e altos custos de combustíveis.
A economia uruguaia, com crescimento em torno de 3% e baixos impostos sobre importação de veículos elétricos, conta com a produção de energia renovável, o que reforça esse cenário favorável.
A venda de veículos é influenciada pela estabilidade cambial e pelo mercado de trabalho, com aumentos de vendas ocorrendo em momentos de dólar estável ou em queda. O mercado automotivo uruguaio é considerado bastante consolidado, com cerca de 65 mil veículos novos vendidos anualmente, uma frota circulante de aproximadamente 1,5 milhão de veículos e alta taxa de motorização, limitando possibilidades de crescimento significativo.
Rocca enfatizou a importância da profissionalização dos revendedores e o alinhamento do mercado à realidade econômica do país, destacando o papel da Ascoma em apoiar essa evolução.
Destaque aos eletrificados
Com uma rede de mais de 1 mil pontos de carregamento e apoio do governo, além de interesses do setor privado, Rocca conta que no Uruguai a maioria dos veículos elétricos é carregada em casa. Apesar do crescimento constante nas vendas de elétricos os veículos movidos a combustíveis fósseis permanecem semelhantes ao ano anterior, embora com uma queda na participação dos veículos tradicionais.
Marcas chinesas de carros elétricos estão ganhando espaço, com destaque para a BYD: “As pessoas tinham receio da revenda do carro elétrico, mas agora perderam esse medo. Então, só agora as marcas tradicionais estão se envolvendo com a importação de carros elétricos. Eles têm que ser competitivos”.
Os benefícios fiscais favorecem veículos 100% elétricos, enquanto os híbridos têm menos benefícios, influenciando a preferência do consumidor. Assim, a expectativa é que o crescimento da eletricidade associada aos veículos continue evoluindo.