São José dos Pinhais, PR — Como prometera no fim de 2021 a Audi retomou a montagem de carros no Brasil, suspensa desde 2020. Em cerimônia com representantes da empresa e dos governos federal e estadual, realizada na quarta-feira, 29, a Audi fez a reabertura oficial da sua linha de São José dos Pinhais, PR, na fábrica que mantém em sociedade com a Volkswagen.
Desta vez o ritmo produtivo é bem mais lento e 100% das partes dos SUVs Q3 e Q3 Sportback são importadas semidesmontadas, em SKD, de unidade da fabricante na Hungria. Portanto são carros importados com poucas operações de montagem no País, que por isso pagam imposto de importação menor.
Para tornar viável a operação, em fevereiro, a Audi conseguiu aprovar com o Ministério da Economia um regime especial de tributação para produção de baixos volumes, para projetos de até 4 mil unidades por ano, pagando alíquota de 18% para importar todas as partes semidesmontadas dos carros, contra 35% anteriormente.
Daniel Rojas, presidente da Audi no Brasil, afirmou que a aprovação do regime especial de produção em SKD foi fundamental para retomar a montagem no Brasil. Isso porque para montar carros no Brasil com todas as partes importadas era necessário pagar o mesmo imposto de importação de veículos totalmente prontos, o que tornava mais vantajoso importar o produto inteiro. A redução da alíquota, ainda que limitada ao máximo de 4 mil unidades/ano, fez voltar a operação.
De acordo com Rojas “o sistema SKD é bastante eficiente para volumes de produção que temos em países como o Brasil. É o primeiro passo de um diálogo positivo com o governo. Se tiver bom resultado poderemos pensar em novos projetos aqui”. Segundo ele foram investidos R$ 100 milhões na nova operação, para instalar novos equipamentos na linha de montagem que estava parada desde 2020.
Já foram contratados cerca de sessenta funcionários para a operação, que este ano deve produzir não mais do que 1,5 mil unidades, e quando aumentar o ritmo, a partir de 2023, deverá contar com o total de duzentos funcionários.
“Ainda não sabemos quando poderemos atingir o nível máximo permitido de produção, porque ainda temos limitações de fornecimento [dos kits SKD] por causa da falta de semicondutores que ainda afeta o mundo todo.”
Regime especial – No sistema de produção com partes importadas e tributação menor é necessário aprovar cada projeto na Camex, Câmara de Comércio Exterior, que em fevereiro editou a resolução que institui o regime especial de produção de veículos em CKD ou SKD, com a concordância dos países do Mercosul que têm acordo de aplicar tarifas de importação iguais.
Para aprovar o projeto é necessário apresentar a lista de componentes utilizados na montagem que, por causa da baixa escala, não têm viabilidade de produção nacional. Após a aprovação passam a ser aplicadas sobre essas importações alíquotas de 16% para veículos completamente desmontados, CKD, e de 18% para semidesmontados, SKD.
É o caso da Audi, que importa os Q3 com a carroceria já soldada, pintada e todos os itens do interior instalados, como painel, bancos e revestimentos. Na linha do Paraná, em apenas seis estações, é executada a montagem do powertrain – a junção de motor, transmissão e eixos – e seu encaixe na carroceria. Por último são instaladas as rodas calçadas com os pneus, que também chegam prontos da Hungria.
Disse Leonardo Lahud, secretário executivo da Camex, presente á cerimônia, que “a Audi é a primeira empresa que pretende usar o regime, mas qualquer fabricante de veículos poderá apresentar projetos nas mesma condições, que serão avaliados caso a caso”.
Antônio Calcagnoto, diretor de relações institucionais da Audi, negociou o regime especial no Ministério da Economia, mas afirmou que o projeto contou com o apoio e concordância do Sindipeças, que reúne os fornecedores de autopeças, e da Anfavea, a associação dos fabricantes de veículos: “Todos entenderam que é impossível fornecer no Brasil volumes tão baixos. Não encontraríamos fornecedores aqui para 4 mil carros por ano. Por isso foi fundamental a aprovação do instrumento”.
A aprovação do regime foi uma espécie de compensação de mais de R$ 150 milhões em impostos que a Audi tinha a restituir da época do Inovar-Auto, que vigorou de 2012 a 2017. O programa criou sobretaxação de 30 pontos porcentuais sobre o IPI de veículos importados, mas oferecia a devolução desses valores a empresas que prometessem produzir no País, como foi o caso da Audi, BMW e Mercedes-Benz, que juntas recolheram mais de R$ 280 milhões.
Em 2020 a Audi tinha condicionado a retomada da produção no Paraná ao recebimento dessa restituição. Segundo Calcagnoto, devido a restrições orçamentárias, o governo não deverá restituir esses valores tão cedo, mas deixou a possibilidade aberta para o futuro.
Sinergia com a Volkswagen – A Audi reabriu sua linha de montagem exclusiva dentro da mesma fábrica que fundou, em 1999, com participação de 30% no investimento de US$ 500 milhões combinado com a sócia Volkswagen, que faz parte do mesmo grupo. Em linha compartilhada com o VW Golf a Audi produziu no Paraná, de 1999 a 2006, pouco mais de 57 mil unidades do hatch A3.
Depois, em 2015, a Audi retomou a operação na fábrica da sócia com investimento em torno de R$ 500 milhões, para evitar o pagamento da sobretaxação de 30 pontos porcentuais no IPI aplicada a veículos importados pelas regras do Inovar-Auto. Com o fim do programa, em 2017, e a falta de estímulos para produzir no Brasil com partes importadas, encerrou a montagem da geração anterior do SUV Q3 em 2019 e do A3 Sedan em 2020.
Agora, com outro regime e volumes ainda menores, faz nova tentativa. Para o presidente Daniel Rojas ainda é cedo para projetar o quanto a operação pode contribuir para o crescimento das vendas da Audi no Brasil: “Acreditamos que os carros montados aqui terão boa demanda, mas é difícil dizer quantos poderemos vender porque ainda temos muitas restrições de falta de semicondutores, que deve se estender para 2023”.