AutoData - Renovabio deverá estimular aportes na indústria automotiva
Combustíveis
17/06/2019

Renovabio deverá estimular aportes na indústria automotiva

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Foto Jornalista  Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

São Paulo – Foi assinada na segunda-feira, 17, a portaria do programa Renovabio, que regulamenta o enquadramento de projetos prioritários no setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis. Segundo Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia, a medida permite a emissão de debêntures livres de impostos com as quais se espera que sejam injetados no setor produtor, anualmente, R$ 9 bilhões.

 

A assinatura do documento produz reflexos diretos no setor automotivo. A entrada dos recursos na cadeia produtiva de etanol representa a retomada dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento acerca da aplicação do combustível. A portaria contribui para destravar investimentos em biocombustíveis, permitindo que empresas captem recursos com isenção de impostos para ampliar investimentos, como expansão do número de usinas e o crescimento na oferta de etanol.

 

Segundo Ricardo Bastos, diretor de assuntos governamentais da Toyota, a portaria fomentará também novos investimentos das montadoras no momento em que a discussão se tornou global: “Retomamos um caminho que foi interrompido por diversas razões. O mundo discute novas matrizes e o Brasil precisa se mostrar como protagonista de uma tecnologia que há muito tempo é pesquisada e aprimorada por aqui. A portaria cria um cenário de estabilidade na produção da cana de açúcar, o que atrai investimentos e chegada de novos produtos”.

 

Nos últimos meses o biocombustível ganhou evidência com iniciativas de algumas montadoras em torno do tema. A Nissan anunciou acordo com a Unicamp para pesquisa do uso do etanol em veículos elétricos. A FCA está desenvolvendo em Betim, MG, motor movido a etanol de quarta geração. A Toyota, por sua vez, anunciou a produção e venda no País de uma versão do sedã Corolla híbrida e flex. Com a assinatura da portaria, seguiu Ricardo Bastos, a tendência é de que a oferta de veículos no mercado interno seja expandida nos próximos anos: “Com mais investimento na produção do etanol, o preço tende a baixar e isso provoca confiança no consumidor a respeito de veículos híbridos”.

 

A movimentação deverá também atrair os holofotes das matrizes para as operação doméstica das montadoras. No caso da Toyota, o executivo disse que o braço europeu da fabricante busca intercâmbio com as unidades que a empresa mantém no País desde o anúncio do Corolla híbrido, uma vez que o veículo possui aderência às políticas de redução de emissões do continente:

 

“Existe um investimento forte direcionado à eletrificação e o etanol surge como opção para células de combustível. Como aqui a aplicação do etanol é importante, há interesse na realização de novos testes no País com projetos de veículos e motores desenvolvidos por equipes da Europa”.

 

O programa de debêntures é voltado também para o etanol, biogás, biodiesel e outros combustíveis renováveis afora o etanol. A medida deverá favorecer também P&D no segmento dos veículos pesados. Veículos de montadoras como Scania, Volvo e Mercedes-Benz já circulam pelo País em testes, e o consenso é de que, uma vez com mais escala, maiores são as chances de que se produzam mais modelos equipados com motores que utilizam biocombustíveis aqui.

 

Para Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, volume é algo fundamental para a massificação dos biocombustíveis na frota circulante, ou pelo menos para que se constitua um ambiente favorável à diversificação das matrizes: “Não adianta investir em P&D e criar formas de se estimular uma tecnologia sem obter escala. Nossa indústria vive de volume e acredito que o caminho seja o da diversificação de matrizes, não o foco em apenas uma”.

 

A assinatura da portaria do Renovabio foi feita durante o Ethanol Summit, realizado de 17 a 18 de junho, em São Paulo, SP. O programa, que representa a nova política de combustíveis renováveis, entrará em vigor em janeiro de 2020.

 

Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil.