Caxias do Sul, RS – Com a expectativa de fazer as primeiras entregas até o fim do ano a histórica marca de caminhões FNM voltará à rotina diária de ruas e estradas brasileiras – e de forma alinhada às novas demandas do mercado por veículos sustentáveis. A primeira marca de caminhões do Brasil, que iniciou produção em 1949, retorna com modelos elétricos, elevado nível de tecnologia e de conectividade, bem como um novo formato de negócio, com vendas pela internet, planilha aberta e sob demanda.
A iniciativa tem à frente um grupo de empresários do Rio de Janeiro, RJ, e de Caxias do Sul, RS, onde a produção será concentrada. A parceira para a montagem dos caminhões, que terão a maior parte dos conteúdos importada, será a Agrale, já com experiência nesta forma de operação pela prestação do mesmo serviço à International e, até pouco tempo atrás, à Foton.
José Antonio Severo Martins, diretor de relações institucionais da empresa, disse que, inicialmente, serão montados dois modelos VUC, de 13 e 18 toneladas, os FNM 832 e 833, para uso urbano. O caminhão, segundo ele, será autossuficiente para circular um dia inteiro, com recarga à noite, nas garagens das operadoras de transporte.
Segundo ele o projeto teve andamento acelerado nos últimos meses, a partir de carta de intenções manifestada por um cliente – que tem o nome mantido em sigilo – para aquisição de 3 mil unidades para o mercado do México e de 4 mil para o Brasil: “Os veículos serão validados por este cliente. Estamos muito confiantes no projeto, que se efetiva num momento de expansão dos mercados e-commerce e delivery”.
O empresário, que tem como um dos sócios, fundadores e investidores o irmão Alberto, acredita ser possível, no médio prazo, transformar a Região da Serra do Rio Grande do Sul, tendo Caxias do Sul como referência, em polo internacional na fabricação de veículos comerciais elétricos. Afirma que, atingido determinado volume de produção, fornecedores internacionais deverão abrir operações no Rio Grande do Sul para atender às demandas.
Zeca Martins observa que o projeto é um verdadeiro smart-truck, que tem como objetivo principal garantir eficiência logística, com uso de tecnologia de alto nível, e muita conectividade. Também destaca o compromisso de manter positivo o custo total de propriedade.
“Logicamente, tudo a seu tempo. Não vendemos caminhões, mas soluções de otimização logística.”
O empreendedor mantém em sigilo os nomes dos sócios do Rio de Janeiro, assim como o valor investido no projeto. A FNM ainda não anunciou oficialmente a equipe, mas o marketing está a cargo de Rubem Roberto Duailibi, ex-DPZ Publicidade, e o departamento comercial é coordenado por Marcos Pettinati, ex-Dacon Veículos.
Um novo conceito de negócio – Os novos FNM ostentam cabine de aspecto vintage, em uma releitura contemporânea dos antigos, fabricados nos anos 1960. O estilo dos caminhões foi desenvolvido por equipe própria, que contou com participação do designer automotivo paulistano Anísio Campos, morto em setembro do ano passado, aos 86 anos.
O modelo de 13 toneladas tem 6 m 30 de comprimento e o de 8 toneladas 7 m 20 O motor elétrico tem tecnologia estadunidense, sistema de 650 volts e gera 355 cv. A produção dos veículos utilizará nióbio em componentes como chassis, freios, suspensão, rodas e demais peças e estruturas para diminuir o peso e aumentar sua resistência, desempenho e autonomia.
O diretor de tecnologia de informação da FNM, Marco Aurélio Rozo, afirmou que os caminhões serão conectados ao fabricante e às respectivas empresas operadoras. Antecipa que serão utilizadas tecnologias por meio de tablet ligado com a TI operacional e com os sistemas de logística das empresas. Isto inclui monitoramento, soluções de videotelemática de câmeras anti-colisão com inteligência artificial, alertas de mudança de pista, de partida de veículos à frente, de motorista fumando e distraído, acelerômetro, avanço de sinal de trânsito vermelho, avisos de distância mínima dos veículos no trânsito e de riscos de colisão, para-choques virtuais, telão de alta resolução na traseira, reconhecimento de sinais de tráfego e quatro câmaras, duas laterais, na dianteira e na traseira: “Tem tudo para se tornar um caminhão autônomo no futuro”.
A empresa também planeja a disrupção total diante do atual modo de operação das montadoras. Pretende trabalhar com planilha aberta, na qual todos os custos de produção dos veículos são apresentados – até sua margem de lucro será aprovada pelos compradores.
Não existirá rede de concessionárias e a comercialização será direta com os operadores logísticos por meio de demanda pré-contratada e pagamento antecipado. Sem concessionárias a assistência técnica também será diferente: como os caminhões estarão todos online com a fábrica, quando for necessária a assistência técnica irá até o caminhão para resolver problemas direto nas garagens dos frotistas.
O renascimento da FNM começou em 2008, quando uma empresa carioca do ramo de mobilidade adquiriu os direitos de uso do nome da histórica marca brasileira, inclusive a logomarca, inspirada no clássico logotipo da Alfa Romeo. Na nova versão a sigla FNM passou a significar Fábrica Nacional de Mobilidades. A divisão FNM Elétricos será dedicada a soluções em mobilidade de alta tecnologia, com projetos de ônibus e caminhões com zero emissão. Também desenvolve o sistema RePower, para transformação de veículos a diesel em elétricos.
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