São Paulo – Os custos dos insumos ligados à produção da cadeia automotiva continuam pressionados apesar do arrefecimento do IGP-M, Índice Geral de Preços – Mercado, e do IPA, Índice de Preços ao Produtor Amplo, que responde por 60% do indicador de inflação, em agosto. Isso se deve, conforme especialistas, à crise hídrica, ao dólar alto, a problemas com a logística e à procura superior à oferta, o que eleva os valores cobrados por matérias-primas e, também, pelo produto final.
Neste mês, de acordo com a FGV, Fundação Getulio Vargas, os bens intermediários, que incluem materiais e componentes para manufatura, a exemplo de borracha, materiais plásticos e do aço utilizados pelo segmento de autopeças, variaram 2,1%, enquanto que, em julho, o avanço nos preços tinha sido de 1,1%. Em 2021, até o momento, a oscilação atinge 27% e, no acumulado dos 12 meses encerrados em agosto, 45,2%.
Quanto aos bens finais, em que se encontram a fabricação de veículos e bens de capitais, a variação dos custos de um mês para outro foi de 1% para 2,2%. No ano, até agosto, a alta é de 12,8% e, em 12 meses, 25%.
Um dos fatores que mais pesou à inflação em agosto foi a energia elétrica, com alta de 3,26% – e que deve seguir pressionando os custos nos próximos meses devido à pior crise hídrica no Brasil desde 1930, conforme o ONS, Operador Nacional de Sistema Elétrico, que demandou o acionamento de termelétricas. Na semana passada o governo avisou que, além de a bandeira vermelha nível 2 continuar sendo adotada, o que gera custo extra de R$ 9,49 a cada 100 quilowatts-hora, há a possibilidade de o valor ser incrementado de R$ 15 a R$ 20, chegando a R$ 25.
As perspectivas do mercado, conforme dados do boletim Focus, do Banco Central, são de dias melhores. A projeção do IGP-M, que passou de 0,78% em julho para 0,66% em agosto, e hoje acumula 31,1% em 12 meses, deve chegar em 19,6% em dezembro, e no mesmo mês de 2022, em 4,9%. O dólar, por sua vez, pode ficar mais estável, aos R$ 5,10 no fim do ano e R$ 5,20 no ano que vem. Hoje, a divisa está cotada em R$ 5,19.
No entanto o economista especialista em setor automotivo, Adriano Oliveira, ponderou que com o peso da eletricidade e dos insumos mais caros, o real acaba valendo menos e os produtos importados chegam aqui mais caros, o que pressiona a inflação, os trabalhadores se movimentam em prol de recomposição salarial e se cria um ciclo vicioso.
“Tão cedo não veremos uma redução dos preços. Além da crise dos semicondutores, que só deve ser solucionada no segundo semestre de 2022, existe um desencontro da disponibilidade de produtos com uma oferta crescente provocados pela pandemia. Até que a indústria consiga retomar o ritmo de produção, levará um tempo. Acredito que o mercado esteja muito otimista diante dos desafios do setor.”
O professor da Fipecafi, Silvio Paixão, complementou que o impacto trazido pela pandemia nos preços, que mudaram de patamar nos últimos dois anos, dificilmente será revertido: “O lado das despesas tem sido mais intenso do que o lado das rendas para as empresas. E quando se tem uma tendência à redução, dificilmente o repasse será feito na mesma proporção. O aumento do custo veio para ficar”.
Paixão citou ainda a problemática enfrentada com a logística, que gerou gargalo na cadeia produtiva, devido ao fechamento de portos durante o período mais crítico da pandemia no ano passado, com o consequente represamento na entrega de peças e componentes, e do navio que ficou encalhado no Canal de Suez.
“O mercado marítimo de transporte de cargas vive momento delicado em que a disponibilidade é pequena e os preços aumentaram até cinco vezes com relação ao período pré-covid. Os custos, até então mais competitivos ante os do transporte aéreo, que estava em torno de 15% mais caro, agora zeraram essa vantagem. O problema é que se a encomenda tem volume grande e é pesada, o avião não soluciona e o impasse continua.”
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