São Paulo – Em tempos desafiadores como o que a economia brasileira atravessa, devido à crise decorrente da pandemia de coronavírus, a Toyota segue lançando mão de sua principal arma para se diferenciar no mercado e, ao mesmo tempo, dar motivos que contribuam à manutenção da operação local: ações de sustentabilidade que reduzam gastos e desperdício, promovam a transformação do entorno e preservem o meio ambiente.
A diretora de comunicação e sustentabilidade da Toyota para América Latina e Caribe, Viviane Mansi, afirmou em entrevista à Agência AutoData, que na montadora se fala bastante de competitividade e previsibilidade de mercado mas, para que isso ocorra, é necessário trabalho em diversas esferas.
“Às vezes temos um pouco de dificuldade de dizer para o Japão: por que no Brasil? Por que não na Argentina, Colômbia ou Tailândia, por exemplo? Hoje o cenário de competitividade no País é complexo porque não há previsibilidade, existe muita assimetria. Trabalhamos fortemente nesse diálogo com a sociedade, com a imprensa e com o governo porque, se tivéssemos melhores condições de operar, dobraríamos essas iniciativas [sustentáveis]. É dessa forma que entendemos que esse é o legado deixado para os locais onde atuamos.”
Para basear sua resposta à matriz a executiva busca dados de retorno sobre investimento, pois para obter ganho econômico e ambiental é preciso ter resultado financeiro, senão não há como financiar essas iniciativas que ela afirma que fazem parte do custo de produção. Somente em projetos de meio ambiente, nos últimos cinco anos foram investidos R$ 25 milhões.
“Quanto mais participamos de projetos mais melhoramos a rentabilidade de produto e garantimos nossa operação, e mais conseguimos ampliar outras iniciativas também. Nunca será só sobre ter mais lucratividade e será sempre sobre distribuir valor. O retorno nunca será exclusivo para a Toyota. O que faz sentido é que o nosso resultado seja para as pessoas, para a empresa e para a sociedade.”
Um dos recentes projetos da Toyota envolve a doação de rebarbas de alumínio de alta qualidade para que a Revo fabrique próteses ortopédicas destinadas a quem teve os pés amputados. Em uma primeira rodada foram confeccionados seis exemplares, sendo que dois foram doados ao atleta paraolímpico Alan Fonteles, para uso no dia a dia. Também serão distribuídas próteses a pessoas de baixa renda.
A segunda fase da iniciativa prevê estudo sobre os impactos da ação e de sua viabilidade produtiva, pois se trata de matéria-prima cara e que pouco sobra na fabricação dos carros – tanto que foram enviados por meio de Sedex para startup situada em Porto Alegre, RS. Hoje existem outros insumos usados em próteses do tipo, como madeira e plástico, mas o alumínio é mais eficiente e durável.
“O conceito geral da Toyota é que quando uma pessoa tem mobilidade ela pode tudo. Então ao fazer projeto como esse, em que aliamos princípio de economia circular e usamos no limite tudo o que podemos sem que isso se torne resíduo, ajudamos as pessoas a viverem melhor.”
Reaproveitando – Nos últimos oito anos 6,5 toneladas de produtos que seriam descartados pela montadora no Brasil foram destinados a uma segunda utilização por meio do Projeto ReTornar, da Fundação Toyota, a qual é presidida por Mansi. Exemplo são uniformes dos empregados, tecidos automotivos, airbags e cintos de segurança doados a ONGs de costureiras que confeccionam roupas de pets, mochilas e bolsas.
A companhia também tem praticado economia reversa com baterias de veículos, embora ainda não seja projeto volumoso, pois o Prius é comercializado há cerca de dez anos e a durabilidade dos componentes é longa. “Se um carro teve perda total, recolhemos as baterias e enviamos à destinação adequada. Como ainda não existe certificação brasileira que o faça, embarcamos à Bélgica ou Japão.”
Mansi citou que um dos maiores desafios da indústria automobilística é que destino dar ao carro quando chega ao fim de sua vida útil. Por isso a montadora selou parceria recente com a startup Green Way for Automotive, de Gravataí, RS, para transferir tecnologia existente no Japão para que seja feita a destinação adequada de tudo o que sobra do carro, o que significa retirar fluidos e óleo de motor da carcaça.
“Isso não é obrigatoriedade no Brasil, e para a empresa que faz esse processo, se trata de um negócio. Para nós é a contribuição para solucionar um problema ambiental.”
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