São Paulo – Em meio a processo de unificação de suas linhas produtivas no Brasil a Honda abriu PDV, programa de demissão voluntária, cujo prazo vai até 29 de outubro. Embora a empresa diga que não possua meta de adesão, o Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região teme que objetivo seja atingir cerca de setecentos trabalhadores que atuam no chão de fábrica de Sumaré, SP.
A empresa emprega aproximadamente 2,8 mil profissionais em suas duas unidades, Sumaré e Itirapina, SP, e em dezembro concluirá processo de transferência da produção para fábrica mais moderna, de Itirapina, construída em 2013 após investimento de R$ 1 bilhão. Em 2019 teve início a mudança gradual dos trabalhadores e, como as duas cidades ficam distantes cerca de 100 quilômetros, e à época foi descartado oferecer transporte fretado pelo custo, a empresa ofereceu valor em torno de R$ 2 mil para ajudar no aluguel, pago durante dois anos.
Segundo comunicado da Honda o foco é atender, por meio do PDV, os colaboradores que têm enfrentado dificuldades para a transferência ou não se adaptaram à região de Itirapina: “A abertura do PDV reflete os impactos da pandemia da covid-19 em toda a cadeia da indústria automotiva. Além disso, nesse momento, estamos concluindo a transferência da produção de Sumaré para Itirapina e existem colaboradores que estão enfrentando dificuldades para a transferência ou não se adaptaram à região de Itirapina e desejam retornar à região de origem”.
Para o sindicato o problema começou justamente com a unificação das plantas:
“A empresa quer fazer uma reestruturação produtiva. Como na recente negociação que tivemos, em que foi acertado o dissídio [com reajuste de 10,4%], ela queria eliminar a política de cargos e salários, a forma encontrada para pagar menores salários é demitindo, voluntariamente ou involuntariamente”, disse José Celestino, dirigente sindical na fábrica de Sumaré. Segundo ele há dois meses foram dispensados, ao todo, quase trezentos funcionários. “Foi uma demissão a conta-gotas. Quando nos demos conta, já estava nesse número”.
Celestino afirmou que na planta de Sumaré, onde hoje é feito o Civic, existem cerca de 2 mil funcionários, sendo 1 mil do setor administrativo, que continuarão no local. Outros trezentos possuem estabilidade devido ao fato de serem sequelados por acidente de trabalho. E em Itirapina, de onde saem HRV, WRV, City e Fit há outros oitocentos:
“A última transferência foi postergada para outubro. Nós começamos a desconfiar que algo não ia bem, porque muitos operários se arriscam diariamente na estrada para ir e voltar do trabalho, pois apesar de a cidade ser pequena, ter apenas 5 mil habitantes, fica próxima a Rio Claro e, com a chegada da empresa e a maior procura, o valor dos aluguéis começou a subir.”
A Honda disse que vem reestruturando suas atividades produtivas desde 2019, com o objetivo de aumentar a competitividade e a sustentabilidade da operação no longo prazo: “A desvalorização do real, a inflação de matérias-primas e a crise no abastecimento de componentes reduziram os volumes de produção nos anos de 2020 e 2021, criando ociosidade em toda a indústria, e o cenário futuro ainda apresenta incertezas”.
O PDV inclui, além do pagamento das verbas rescisórias, doze salários nominais, sendo nove salários nominais fixos, mais três nominais mediante ao atendimento do cumprimento dos critérios de segurança, qualidade e produção. O pacote oferece ainda valor referente a doze meses de plano de saúde para o titular e seus dependentes, cartão de vale alimentação de R$ 250 por seis meses e três meses de orientação profissional assistida.
Segundo Celestino, pelo fato de o sindicato ser contra o PDV, e querer entender melhor os motivos que levaram a ele, estão sendo realizadas assembleias na quinta e sexta feiras. Posteriormente a empresa será notificada para que haja uma reunião com a entidade.
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