São Paulo – De olho no futuro e nas novas tecnologias, especialmente as sustentáveis, a Scania terá no ano que vem um centro de desenvolvimento tecnológico em sua sede em São Bernardo do Campo, SP. A novidade integra ciclo de investimentos de R$ 1,4 bilhão iniciado neste ano e que vai até 2024.
Conforme contou com exclusividade à Agência AutoData o presidente das operações da Scania no Brasil e na América Latina, Christopher Podgorski, o centro está em obras e começará a operar ao longo do ano que vem: “Como somos a única unidade da Scania fora da Europa que tem um braço de pesquisa e desenvolvimento, dentro desse ciclo de investimentos nós estamos construindo novo centro tecnológico em São Bernardo, no nosso site, e tem muito a ver com as novas tecnologias que vão ser introduzidas.”
Podgorski pontuou que, pelo fato de o espaço ser modular, uma parte já está em operação, para as atividades voltadas ao desenvolvimento das soluções para a motorização Euro 6. O segundo módulo é para as novas tecnologias, como eletrificação e veículos autônomos.
“No nosso braço estendido do centro tecnológico europeu, com os 270 engenheiros que temos aqui, vamos adaptar tecnologias que hoje foram desenhadas para o Primeiro Mundo em operações mais severas, que são as que encontraremos no Brasil e América Latina. Explico: veículo elétrico europeu trabalhando com muita poeira e altas temperaturas, com vias de pavimentação irregular, vai ter outra performance. Então antes de apresentarmos aos nossos clientes qualquer nova tecnologia, vamos validá-las em testes. E o nosso pessoal daqui é que vai fazer isso.”
O presidente da Scania revelou que algumas unidades de caminhões elétricos já estão a caminho do Brasil a fim de serem testados. “Teremos de fomentar novas parcerias, como estamos fazendo com o veículo a gás, fazer o mesmo com a eletrificação no que se refere à infraestrutura de carregamento das baterias. Entendemos que essa jornada já começou, mas ela vai se maturando ao longo dos próximos meses. Não vamos ficar para trás de ninguém. Estamos desenvolvendo portfólio de produtos na Suécia, com um roadmap bastante robusto.”
Para o executivo, é tudo uma curva de aprendizado. E é preciso saber lidar com esses veículos, de altíssima voltagem e que não é qualquer um que fará manutenção. O mesmo se refere ao processo fabril.
O ciclo de investimentos também prevê modificações que devem ser feitas na fábrica do Grande ABC. Podgorski disse que é evidente e não precisa ser nenhum cientista para saber que a montadora quer ir para o caminho da eletrificação. “Mas o que chamamos de pacote de baterias tem que ser feito localmente. Ao transportar bateria num contêiner através do oceano você já perde parte da sua vida útil no processo logístico. A produção de baterias tem que ser local e o empacotamento tem que ser feito aqui.”
Ele, no entanto, garantiu que ainda não foi firmada parceria com a empresa que ficará encarregada da produção das baterias. A Scania tem acordo global com a Northvalt, mas disse não saber se ela será a provedora no Brasil. “Tem grandes chances de, mas não tem decisão tomada, mesmo porque há outros produtores locais que estão sendo avaliados.”
Outra informação que o executivo disse não poder pontuar, por não estar tomada, é exatamente quando terá início a produção de veículos elétricos pela Scania em São Bernardo. “Mas os preparativos, o planejamento, a alocação de recursos, o treinamento das capabilidades, a contratação de gente que detém o conhecimento dessas novas tecnologias, isso já começou faz tempo.”
Ele afirmou que o início no processo de eletrificação deve ocorrer pelos ônibus, devido ao fato de terem rotas menores e mais definidas. Exemplificou dizendo que um caminhão que hoje vai a Campinas, SP, amanhã pode ir a Goiânia, GO, e que essa versatilidade ainda não existe com a eletrificação. E complementou que como a vocação da montadora é de pesados, não haverá grande atuação na distribuição urbana – o que é feito por caminhões menores – e que, assim como não há modelos à diesel da marca sueca, não terá em eletrificados também. “Por eliminação, portanto, temos vocação para ônibus urbanos e em geral, e o primeiro subsegmento a ser atendido serão os ônibus urbanos.”
Outro ponto atendido no centro de desenvolvimento tecnológico serão os veículos autônomos. Podgorski lembrou que a tecnologia já existe, mas no País ainda não há regulamentação. “Se o veículo se envolver em um acidente, de quem é a responsabilidade? Do fabricante, do dono do veículo ou de quem escreveu a regulamentação e permitiu que aquele veículo estivesse circulando? No início, vão vir para atividades mais remotas como mineração, florestal, fora de estrada. Para atividades urbanas vai demorar um pouco até que esses três pilares sejam perfeitamente definidos, segurança acima de tudo.”
O ciclo de investimentos também incluiu novo centro logístico em operação desde fevereiro, que antes ficava em Mauá, a 37 quilômetros de distância, para um espaço que o executivo vê de sua janela, a cinco quilômetros, em São Bernardo. Ainda, está em processo de construção estação de tratamento de efluentes, que entrará em operação na virada do ano e estará em pleno funcionamento em abril. “Nosso processo produtivo consome 85 milhões de litros por ano e vamos reduzir o consumo em 85% com água de reúso. Até 2025, a frota circulante comparada à década anterior a emissão de carbono vai ser reduzida em 20%.”
Foto: Divulgação.