São Paulo – Na quinta-feira, 28, Bonito, PE, estará em festa. Na cidade de pouco mais de 45 mil habitantes, localizada a 130 quilômetros da Capital, Recife, começará a operar a Yazaki, fornecedora de chicotes automotivos que tem como sua principal, e até agora única cliente, a fábrica da Stellantis, a cerca de 200 quilômetros dali.
A expectativa do presidente da Yazaki para o Mercosul, Lázaro Figueiredo, é gerar, quando a fábrica estiver a todo vapor, 1,6 mil postos de trabalho na região. Por enquanto foram abertas setecentas vagas, em dois turnos, o suficiente para suprir a demanda atual da Stellantis, de cerca de 1 mil veículos/dia.
Figueiredo tem razões adicionais para celebrar a abertura da fábrica, que consumiu R$ 60 milhões de investimento em plena pandemia. Mesmo diante de todo o cenário adverso desenhado nos últimos meses ele conseguiu manter o projeto, ainda que com algum atraso: “É algo que nos deixa orgulhosos, como brasileiros”.
A história da sexta fábrica da Yazaki no Brasil começou há pouco mais de três anos, motivada pela então FCA, hoje Stellantis. Dentro da necessidade de regionalização da produção os chicotes automotivos são um dos itens colocados como prioritários pela companhia que tem, na Yazaki, um de seus principais parceiros globais.
“Atendemos a cerca da metade do volume da Stellantis. O resto é da TCA, uma das empresas do grupo”, disse Figueiredo, citando a fabricante de chicotes adquirida pela Fiat antes da construção de sua fábrica no Nordeste. “Eles queriam mais volume e nós fomos procurados pela nossa boa relação, não só aqui no Brasil mas no âmbito global.”
Em novembro de 2018 o projeto foi aprovado pela matriz da Yazaki, no Japão. Figueiredo e sua equipe partiram, então, em busca de uma sede: “Mapeamos mais de quarenta cidades na região. Procurávamos boas condições de infraestrutura, logística e mão de obra mas, mais do que isso, buscávamos uma cidade que pudesse abraçar a Yazaki. Eu dizia ao governador: nós temos condições de mudar a situação da cidade onde nos instalarmos”.
Neste mapeamento, porém, Bonito ficou de fora. A cidade surgiu já na reta final, por meio da indicação de um deputado estadual que ficou sabendo do projeto. No fim de 2019 a Yazaki bateu o martelo e escolheu o município que, dentre outras coisas, já possuía uma comunidade japonesa instalada.
As obras começaram meses depois em meio à turbulência da pandemia. Logo veio a notícia de que a Stellantis atrasaria seu projeto, o que demandaria mais cautela à Yazaki: “Decidimos que não era hora de tirar o pé. Mantivemos os planos”.
Outro balde de água fria chegou no início do ano, quando a Ford decidiu parar de produzir em Camaçari, BA. A operação de Nossa Senhora do Socorro, SE, que fornecia à fabricante, sofreu forte impacto.
Os sustos não frearam os planos e Bonito recebe, agora, uma fábrica com tecnologia de Indústria 4.0, com processo produtivo aprimorado para atender às demandas da cliente e produtividade maior, com mais velocidade nos processos de produção. Câmaras no fim da linha auxiliam na checagem. Chicotes automotivos demandam mão-de-obra intensiva, que foi treinada nos últimos meses para entregar produtos de elevada qualidade.
Com o projeto entregue Figueiredo agora se preocupa com o futuro no curto prazo. O volume de 2021, no geral, já o decepcionou e as perspectivas para 2022 são incertas: “O mundo virou de cabeça para baixo: navios sumiram, aeroportos estão congestionados. Estou muito preocupado com o fim do ano, porque o volume já estáo abaixo do previsto. Mas, mais do que isso, incomoda a falta de previsibilidade. Tudo indica que, neste sentido, 2022 será parecido com 2021".
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