São Paulo – A Volkswagen realizou operação de dívida de R$ 500 milhões por meio de notas de crédito à exportação que atrelam a oferta de recursos ao cumprimento de metas relacionadas à agenda ESG. Em iniciativa pioneira a contrapartida é elevar a presença de mulheres a até um quarto do efetivo da operação brasileira em cargos de liderança, reduzir em pelo menos 12% as emissões de combustível fóssil nas unidades produtivas e chegar a 20% de uso de biometano para abastecer suas operações.
As informações foram divulgadas em coletiva de imprensa na terça-feira, 2. No entanto os pormenores sobre a operação financeira não foram apresentados, o que foi reforçado pelo fato de não haver representante do Bradesco, banco emissor do título de dívida sustentável, devido a período de silêncio da instituição. Dados como os juros aplicados a essa operação e a redução da taxa em comparação a outras modalidades ainda são desconhecidos.
Apenas o prazo de quitação foi revelado: três anos. Assim como o motivo da escolha pelas notas de crédito à exportação, que segundo a montadora faz parte de seu plano de financiamento e é algo usual por empresas que exportam pelo fato de o contrato ser em reais e não haver exposição a variações cambiais. Quanto ao lastro é necessário comprovar a efetivação da exportação no fim do período do acordo.
Ciro Possobom, diretor operacional da Volkswagen Brasil e vice-presidente de finanças e estratégias de TI da Volkswagen Região América do Sul, afirmou que o dinheiro será usado para o capital de giro da companhia e na melhoria do processo produtivo. Segundo ele “a motivação [da operação] não é financeira”, e sim o compromisso público: “Não é fácil chegar e fazer tudo isso. Não é a questão da dívida e da redução dos juros que motiva a gente, mas fazer diferente e entregar algo melhor para a sociedade. Há melhora nos juros [com emissão do título de dívida], mas a redução na taxa perante todo esse compromisso é insignificante”.
No entanto essa dívida possui dois kpis, keys performance indicator, na tradução do inglês indicadores-chave, que serão acompanhados por certificadora externa, contratada pelo Bradesco, contou Possobom, sem dizer o nome da empresa: “No fim do prazo teremos de entregar esses kpis o que, se não for feito, gerará multa. E, em paralelo a isso, temos nossa governança interna que fará acompanhamento periódico tanto do CO2 como da diversidade. Ou seja: há o compromisso de imagem e o financeiro”.
O valor da multa não foi divulgado.
Compromissos – Um dos kpis propostos para honrar o título de dívida sustentável é ampliar em 86% o total de mulheres executivas na empresa, que ocupam cargos de supervisão e acima dele. Em 2020 representavam 14% do total e, em 2024, devem chegar a 26% do efetivo. O mesmo se planeja para mulheres gerentes e gerentes executivas: eram 9% em 2020 e a meta é que cheguem a 25%, crescimento de 180%.
Priscilla Cortezze, diretora de comunicação e sustentabilidade da Volkswagen, assinalou que hoje existe programa para dar suporte a treinamento e capacitação da gerência e do corpo executivo “para que realmente entendam a importância da diversidade. No ano passado estendemos o programa para nossa rede de concessionárias e para os fornecedores. Trata-se de número agressivo, audacioso, aumentar de 14% para 26% a presença de mulheres em um setor de base industrial, de ciência e tecnologia, no qual sabemos que a participação feminina não é principal. No programa de trainee deste ano temos 60% de mulheres”.
Cortezze também disse que a proposta, agora, é garantir que todo processo de contratação tenha pelo menos uma mulher finalista, assim como os planos de sucessão, e que a empresa tem dado subsídios para que elas estejam presentes e em todas as posições de liderança. Contou ainda que programa com Senai e parceria com o sindicato dos metalúrgicos possuem o trabalho de trazer e reter mulheres no segmento.
Com relação à maior presença de profissionais pardos, negros e LGBTQI+ Pablo Di Si, chairman executivo da Volkswagen América Latina, assinalou que ainda não há uma meta, pois a preocupação é recente e o ponto de partida é perguntar como os funcionários se veem para que então possam mensurar e avançar nesse aspecto: “No ano passado tivemos muitas discussões internas para que não haja diversidade apenas com mulheres. E o programa de trainees refletiu isso, pois foi o mais diverso que já tivemos. Ainda não está no kpi porque precisamos acelerar isso primeiro”.
Segundo ele uma meta para o tema ainda está em construção.
Quanto à redução de emissões Possobom citou que desde 2014 têm sido feitas ações para ampliar a sustentabilidade, como a instalação de lâmpadas led nas fábricas, nas quais toda a energia provém de fonte renovável, e a ideia é intensificar essas ações.
Em outubro de 2021 foi firmada parceria com a Raízen para o fornecimento de biogás, que terá seu primeiro abastecimento no início de 2023. O projeto ainda contempla o desenvolvimento de potenciais novas fórmulas de etanol, o abastecimento da frota da montadora somente com o combustível limpo, o fornecimento de energia renovável para a rede de concessionárias e a instalação de rede de eletropostos a partir de São Paulo.
Todas as iniciativas integram programa global da companhia, WayToZero, que pretende, até 2050, torná-la neutra em carbono.
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