São Paulo – O custo de aquisição dos veículos a partir de financiamentos avançou a passos largos em 2021. De acordo com dados do Estatísticas Monetárias de Crédito, do Banco Central, a taxa média de juros, que ao fim de 2020 estava em 19,2% ao ano, em dezembro do ano passado chegou a 26,8% ao ano, alta de 7,6 ponto porcentual. Trata-se da segunda modalidade de crédito para pessoa física com maior encarecimento no período, atrás apenas do empréstimo não consignado, que aumentou 10,8 ponto porcentual.
Apesar da elevação dos juros o número de contratos firmados para parcelar a compra do carro novo também cresceu. Foram contabilizados 142 mil acordos em 2021, alta de 16,9% com relação ao ano anterior. Da mesma maneira o valor financiado, que somou R$ 2,7 bilhões, superou em 9,6% o total de 2020.
Na avaliação do coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, os números mostram que o mercado brasileiro ficou bastante desaquecido em 2020, ano em que a pandemia chegou e, em 2021, quando o cenário de isolamento social começou a dar uma trégua, o consumo reprimido começou a se manifestar:
“As famílias pouparam em 2020, muita gente deixou de viajar e de gastar regularmente o que desembolsava em restaurantes e com lazer, e isso possibilitou que no ano passado, mesmo com o reinício do ciclo de alta de juros, partissem para a aquisição de automóveis”.
A Selic, que no início de 2021 estava em 2% ao ano, de janeiro a dezembro mais do que quadruplicou, chegando a 9,25% ao ano. A decisão do BC visou a conter a inflação nas alturas, que encerrou o ano aos 10%, maior variação desde 2015.
Balistiero ponderou que embora a movimentação do setor de financiamento de veículos tenha parecido surpreendente ao longo de 2021, isso não se sustentará este ano: “Muito provavelmente para 2022 esse cenário mudará porque a Selic está muito alta, o Brasil atingiu a maior taxa de juros real do mundo com a última decisão do Copom, e ela que vai continuar subindo”.
Na quarta-feira, 2, o BC elevou a taxa básica de juros a 10,7% ao ano, decisão que levou a Selic de volta aos dois dígitos após quatro anos, e que segundo levantamento da Infinity Asset, em parceria com o MoneyYou, colocou o Brasil na primeira colocação do ranking global dos maiores juros reais.
Considerando que a expectativa é que a Selic chegue a 11% ou 11,2% ao ano em 2022 todo o sistema de crédito sofrerá impacto, afirmou o especialista: “Uma decisão do Copom demora aproximadamente seis meses para chegar na ponta. Portanto, se considerarmos que a Selic está na oitava alta seguida, ainda estamos sentindo o impacto das primeiras subidas de juros”. O aumento recente da taxa básica, observou Balistiero, deve ser sentido apenas no segundo semestre. Ou seja: mais elevações devem atingir também o financiamento de veículos.
Aliando-se esse contexto à taxa de inadimplência do setor, que considera atrasos nos pagamentos acima de noventa dias e que, de acordo com os dados do BC, está em 3,7% – porcentual que há um ano era de 3,1% para pessoa física -, é de se esperar que o ritmo dos financiamentos, tanto da oferta como das contratações, seja arrefecido:
“O cenário deve mudar drasticamente este ano. Se somar com a inadimplência crescente 2022 será mais complicado para o setor automotivo”.
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