São Paulo – A decisão da Great Wall de iniciar operação produtiva no Brasil oferecendo em seu portfólio apenas veículos eletrificados, ainda que híbridos plug-in na primeira etapa, já soou como ousadia da companhia de origem chinesa, que adquiriu, da Mercedes-Benz, a fábrica de Iracemápolis, SP, e que lá pretende produzir 100 mil unidades por ano. Mas, como relatou seu COO Oswaldo Ramos no Seminário Megatendências, organizado pela AutoData Editora, não para por aí: todos os modelos GWM terão tecnologias semiautônomas de nível 2 e alto índice de conectividade. Mais: o sistema de venda tradicional, com base em ampla rede de concessionárias, não será o adotado para a distribuição.
É mais fácil, naturalmente, para uma empresa que começa a se estruturar do zero no mercado brasileiro tomar decisões disruptivas. O que não significa acerto nessas decisões: isso só o tempo dirá. Mas a GWM não faz isso sem pensar, ao contrário: há doze anos estuda o mercado brasileiro, de acordo com seu COO, que apresentou durante o seminário números com base em estudos com consumidores locais que sustentam a base dessas decisões.
“54% dos entrevistados desejam um carro por assinatura. Em torno de 30% nem têm ideia do que isso significa. Por isso tomamos a decisão de não adotarmos as concessionárias tradicionais, embora pretendamos cobrir 100% do território nacional: fecharemos acordos com trinta grupos e estes grupos, cada um responsável por uma região, representarão a marca.”
A procura, de acordo com o COO, está intensa – e só não avançou mais porque a própria GWM ainda está se estruturando por aqui, contratando e ampliando equipes.
Os investimentos na primeira fase somam R$ 10 bilhões e contemplam o lançamento de dez modelos e a formação de rede de fornecedores. Para Ramos o Brasil oferece a estrutura que a GWM demanda: há bons fornecedores e ociosidade na cadeia: “Claro que pode ser que uma ou outra empresa do grupo acabe se instalando por aqui, mas não vejo essa necessidade. Temos uma boa base”.
As conversas com os fornecedores também ainda não começaram. O cronograma da GWM prevê o lançamento de um primeiro modelo, da marca Haval, focada em SUVs, no último trimestre. No segundo semestre de 2023 Iracemápolis deverá entregar o primeiro Great Wall nacional, com propulsão híbrida – e Ramos disse que pode ser flex, pois há a intenção de desenvolver a tecnologia por aqui.
Até 2025 a meta é ter dois terços do conteúdo localizado. Além da Haval serão vendidos, e produzidos, veículos da Tank, de SUVs de luxo off-road, e da Poer, de picapes. A Ora, premium elétrica, também pode desembarcar no Brasil, embora inicialmente importada por se tratar de nicho. Iracemápolis será base de exportação para a América Latina.
Ramos também deu pistas a respeito do posicionamento de preços: “Uma empresa que pretende produzir 100 mil veículos não poderá concorrer, em preço, com importados. Teremos como referência os concorrentes nacionais”.
Quanto aos carros aqui oferecidos errou quem arriscou fazer projeções: segundo o COO os modelos que chegarão e que serão produzidos no Brasil serão revelados apenas no mês que vem, no Salão de Pequim.