São Paulo – O mercado de ônibus foi o que embarcou mais rápido e caiu mais fundo na crise provocada pela pandemia de coronavírus, com apenas 13,7 mil vendas em 2020 e forte retração de 34% sobre 2019. Também é o segmento de veículos que mais demorou a se recuperar, com expansão insignificante de 1% em 2021. Mas em 2022 a reação tem potencial de superar o crescimento projetado pela associação dos fabricantes de veículos, a Anfavea.
Reunidos na terça-feira, 26, em painel formado por três dos maiores fabricantes de chassis do País no Fórum AutoData de Veículos Comerciais, representantes da Mercedes-Benz, Volkswagen Caminhões e Ônibus e Volvo apostam em mercado de ônibus bastante acima das expectativas da Anfavea, que em janeiro passado estimou a venda de 17 mil ônibus este ano, o que foi considerada uma previsão conservadora, mas que já representaria substancial expansão de 22% ante 2021.
Maior fabricante do País, com domínio de cerca de metade das vendas de chassis, a Mercedes-Benz mostrou que trabalha com volumes bem mais robustos, segundo projeta Walter Barbosa, diretor de vendas de ônibus: “O mercado este ano pode chegar a 21 mil unidades, em forte crescimento de 51%, mas se a licitação de 3,8 mil ônibus do programa Caminho da Escola for aprovada, este total sobe para quase 25 mil”.
“Há uma série de fatores que prometem um ano excepcional para o mercado de ônibus, mas só para quem tiver capacidade de produzir e atender todos os pedidos, pois também estamos enfrentando gargalos de fornecimento de chips e outros componentes, com produção abaixo da demanda, algo que só deve começar a se normalizar no segundo semestre”.
Jorge Carrer, gerente executivo de vendas de ônibus da VW Caminhões e Ônibus, reconhece que a demanda está aquecida em todos os segmentos e que as perspectivas são positivas, mas a velocidade de recuperação da indústria está abaixo da demanda, há dificuldades para atender todos os pedidos devido a interrupções e atrasos no fornecimento de suprimentos, que também afetam as linhas de produção de chassis.
“Conseguimos superar muito dos problemas que tivemos em 2021, mas em 2022 ainda existem forte obstáculos, faltam semicondutores, pneus, e a cadeia logística enfrenta instabilidades crescentes com fatores como a guerra na Ucrânia e novos lockdowns na China provocados por ondas da covid-19”.
Inflação e juros altos, com encarecimento dos financiamentos, também são fatores que trabalham contra as boas perspectivas de crescimento do mercado de ônibus no País, mas até o momento a demanda segue acima da capacidade de produzir.
Único a não lamentar esse problema foi Paulo Arabian, diretor comercial da Volvo Bus: “Até agora não tivemos falta de componentes e não precisamos interromper um dia sequer a produção de chassis em Curitiba. Temos todos os modelos do nosso portfólio para pronta entrega”.
Cenário positivo em todos os segmentos – Apesar das boas perspectivas, o fato é que não houve crescimento algum nas vendas de ônibus no primeiro trimestre. Foram 3,3 mil emplacamentos, número igual ao do mesmo período de 2021, mas isso porque as encomendas de escolares ainda não chegaram e o segmento isolado observou queda trimestral de vendas de 26%.
“No ano passado esse segmento escolar foi forte e este ano também será, mesmo se a mais recente licitação do Caminho da Escola não for aprovada, mas acreditamos que não há problemas e isso logo será esclarecido”, explica Barbosa, da Mercedes-Benz.
Outro segmento que registrou queda no primeiro trimestre foi o de modelos para fretamento, com recuo de 45%. Isso ocorreu, segundo Barbosa, porque passado o período agudo da pandemia não há mais restrições de lotação nesses ônibus, assim os operadores podem reduzir o número de veículos em circulação. “O segmento de fretamento não tem mais o mesmo vigor do ano passado, mas ainda está bom e também deve crescer em 2022”.
Nos segmentos de ônibus urbanos e rodoviários a expansão já é forte, com alta nas vendas de janeiro a março de 37% no primeiro caso e meteóricos 159% no segundo. “O reajuste das tarifas do transporte público das principais capitais dá mais fôlego para as empresas renovarem suas frotas”, pontuou Arabian, da Volvo Bus, também citando a expansão das frotas de BRT em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Campinas.
Nesse sentido, Barbosa lembra que as compras governamentais de ônibus em 2022, incluindo os modelos para o Caminho da Escola e para frotas urbanas, podem chegar a 12 mil veículos. “Apenas isso já é quase o mesmo volume do ano passado inteiro”.
Já o fôlego acelerado do segmento rodoviário vem de alguns fatores combinados que favorecem as compras de novos veículos após a falta de passageiros causada pela covid-19. Conforme cita Arabian, houve forte recuperação do setor de turismo, ao mesmo tempo em que o encarecimento das passagens aéreas desviou parte da demanda para os ônibus. Os aplicativos também representam demanda adicional por viagens rodoviárias.
O diretor da Volvo lembra que até a expansão do comércio eletrônico está sendo aproveitada pelas viações de ônibus, que estão vendendo espaço nos bagageiros para o transporte rodoviário de mercadorias, uma forma de compensar parte das perdas com a redução de passageiros que agora serve de receita extras, com crescimento de dois dígitos porcentuais nos volumes transportados.
Antecipação de compras – Assim como acontece no segmento de caminhões, as vendas de ônibus este ano também são impulsionadas pela nova etapa da legislação brasileira de emissões para veículos pesados, o Proconve P8, que entra em vigor a partir de janeiro de 2023 e vai obrigar a adoção de motores diesel Euro 6, mais caros. Com isso frotistas já planejam antecipar até o fim de 2022 compras de modelos Euro 5, mais baratos, segundo Barbosa, da Mercedes-Benz.
“Já temos procura de clientes que querem começar já a renovar a frota para escapar dos preços mais altos dos modelos Euro 6. Mesmo as licitações governamentais como as do Caminho da Escola, que normalmente têm entregas escalonadas ao longo de dois anos, este ano se esgotam em dezembro, até porque depois disso as condições serão outras”.