São Paulo – Como uma Fênix a Eisenmann, que quase desapareceu do mercado com o pedido de recuperação judicial da matriz, na Alemanha, em 2019, ganhou, há seis meses, sobrevida e investimento de peso para voltar a crescer no segmento automotivo e conquistar espaço no agronegócio. Especializada em tecnologias de pintura de veículos, máquinas agrícolas e linha branca a subsidiária brasileira foi adquirida há oito meses por uma de suas fornecedoras, a Pentanova, que opera no segmento de automação industrial, e prepara a mudança de nome e logomarca para setembro.
A antiga Eisenmann, futura Pentanova, não apenas renasceu como também estabeleceu metas bastante desafiadoras para seu novo momento. Para expandir 20% e ampliar seu faturamento de R$ 130 milhões para R$ 180 milhões este ano estabeleceu dois princípios: exportação e agronegócio. E dentro do comércio exterior está a audaciosa meta de embarcar tecnologia e engenharia de ponta para a China.
O plano de negócios se ampara em ciclo de investimento de R$ 15 milhões em cinco anos para ampliar a capacidade produtiva, de olho na demanda proveniente das Américas, e no desenvolvimento de novas tecnologias. Em 2022 estão sendo aportados de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões na fábrica de Cruzeiro, SP, para melhorar processos e trazer novas máquinas, afirmou Alexandre Coelho, CEO da Eisenmann do Brasil. A previsão é ampliar em 40% o quadro de cinquenta funcionários até o ano que vem.
“A experiência nos mostra que as dificuldades nos fazem crescer bastante. Nos últimos três anos enfrentamos a pandemia, em conjunto com a insolvência da nossa matriz, e fomos obrigados a nos reinventar. Partimos para projetos internos de aumento de competitividade e de produtividade, o que nos obrigou a revisitar todos os nossos processos para que nos tornássemos atrativos. Arrumamos a casa e estamos preparados para o crescimento.”
Alexandre Coelho
Debaixo do guarda-chuva de sua nova casa a meta é embarcar suas tecnologias para a China. O pujante mercado é familiar à Pentanova, que lá mantém três fábricas. Mas o conhecimento que exportará será Made in Brazil e a principal aposta oferecer serviço de acabamento de veículos com a pintura de cabines e de carros.
A ideia é atender, em um primeiro momento, montadoras que já são parceiras de longa data por aqui, como BMW, Audi e Scania, que segundo Coelho possui projeto de fábrica em território chinês apoiado pela equipe brasileira:
“Na parte de engenharia temos possibilidade de fornecer. E na área de materiais fabricados ainda passaremos por processo para verificar nossa competitividade. Competir com manufatura chinesa não é simples. Mas com certeza na área do conhecimento técnico e do desenvolvimento devemos participar”.
O CEO da Eisenmann do Brasil atribuiu à origem alemã e à transferência de conhecimento a base para a expansão da companhia. O fato de a Pentanova ter adquirido também unidades da marca no México e nos Estados Unidos tornará viável a manutenção das atividades em conjunto, pois, embora a base fabril se concentre em Cruzeiro, a engenharia se divide pelas plantas daqui e a mexicana, e a estadunidense cuida da parte comercial.
“O mercado dos Estados Unidos é muito maior do que o nosso e há muitas oportunidades, por exemplo, no ramo das startups de carros elétricos. Lá nós fornecemos para a Tesla. Foi um projeto pequeno de modificação em uma estufa no processo de pintura dos transportadores. Por outro lado tivemos um fornecimento importante para a Toyota naquele país, fabricamos aqui em Cruzeiro e embarcamos para o Alabama. Há mais de cinco anos atuamos por lá, onde atendemos também Volvo e Amazon. Trata-se de mercado muito receptivo para nós.”
Por aqui o grande projeto será a constituição de planta produtiva de pintura com o Grupo Jacto, em Pompéia, SP, no qual a parceira está investindo R$ 80 milhões: “Será aplicada tecnologia de pintura que antes não fazia parte das máquinas agrícolas, para que os equipamentos sejam mais resistentes, duráveis e tenham mais qualidade”.
Desde que chegou no Brasil, em 1997, uma de suas principais atuações tem sido por meio da Carese, empresa do Grupo Eisenmann responsável pela pintura no consórcio modular da Volkswagen Caminhões e Ônibus em Resende, RJ. A companhia, no entanto, já realizou projetos com quase todas as montadoras estabelecidas aqui, e o mais recente deles é a prestação de serviços de manutenção na recém-lançada fábrica da Great Wall Motors em Iracemápolis, SP.
Cenário de crise — Apesar de o setor automotivo sofrer com a falta de semicondutores Alexandre Coelho confia na demanda reprimida “que continuará em alta por causa da mudança de motorização para o Euro 6 no ano que vem, caso dos pesados”.
Além disso ele tem visto movimento diferente daquele vivido a partir dos anos 1980, em que as grandes unidades produtivas passaram a terceirizar seus serviços, para uma retomada da verticalização, motivada pela busca do alívio da pressão de custos e pela ocupação de área ociosa, assim como de mão de obra disponível não aproveitada 100%:
“Temos visto estudos de montadoras visando a trazer para dentro de casa algumas fabricações, que são hoje em dia de fornecedores. Esse é um movimento interessante. E reflete de forma positiva no nosso negócio”.
Em torno de 60% do faturamento atual provém do setor automotivo e os outros 40% de máquinas agrícolas e da indústria em geral, como linha branca — a Eisenmann fornece para Whirlpool e Esmaltec. Cerca de 20% são gerados por exportações: nos próximos anos o CEO projeta ampliar essa fatia para 40% e até 50%.