São Paulo – Os cerca de 4,5 mil trabalhadores do chão de fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, SP, terão suas jornadas e salários reduzidos a partir de julho. O motivo é a escassez de peças e componentes eletrônicos provocada pela pandemia e agravada pela guerra na Ucrânia.
A medida será aplicada no retorno das férias coletivas de dez dias concedidas a 3 mil funcionários entre 27 de junho e 7 de julho. A jornada de trabalho será diminuída em 24% e, os salários, em 12%.
A informação é do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Na quarta-feira, 22, a entidade realizou assembleias internas para comunicar os operários sobre a redução de jornada e salário.
Em um primeiro momento a medida terá validade imediata a partir de 7 de julho, mas poderá ser renovada de acordo com a necessidade. Em julho, a redução da jornada será realizada de uma só vez, e os funcionários que estiverem em férias coletivas permanecerão mais quatro dias em casa. Os demais ficarão cinco dias fora da empresa.
Caso seja preciso estender a ferramenta em agosto, os operários ficarão um dia por semana em casa. Segundo o sindicato, a ferramenta, que visa proteger o emprego, é assegurada pelo acordo negociado entre sindicato e montadora aditado em 2020 e vigente até 2025.
O limite de redução de jornada permitido pelo acordo é de até 30%, mas a empresa optou por 24%. Quanto ao salário, seria possível recuar em até 15%, entretanto, a diminuição foi de 12%.
Sem previsão de melhora – Inicialmente a montadora pretendia suspender um turno de produção como alternativa à falta de suprimentos, informou Wellington Damasceno, diretor administrativo do sindicato. O segundo turno de produção ficou suspenso por três meses na unidade entre o fim do ano passado e o início deste, também devido à escassez de semicondutores, mas foi retomado em março.
No entanto, Damasceno afirmou que a entidade negociou com a montadora a redução de jornada a fim de minimizar os impactos não somente para os operários da Volkswagen, mas para toda a cadeia de produção.
“Essa situação tende a ser levada por um bom tempo, mas temos um acordo que estabelece previsibilidade, traz ferramentas de flexibilidade para momentos como este, garante investimentos e a permanência da fábrica em São Bernardo.”
Damasceno contou que o sindicato questionou previsão de normalização da situação, mas como se trata de um problema global é difícil prever.
A unidade do ABC, onde trabalham ao todo cerca de 8,2 mil funcionários e são produzidos Nivus, Virtus, Polo e Saveiro, vem sofrendo paradas desde o início do ano por causa da falta de peças e semicondutores. As férias coletivas do dia 27, por exemplo, serão as terceiras concedidas somente este ano.
“Nós não temos uma política industrial que garanta que parte dos produtos que importamos sejam feitos no Brasil. Política industrial não é o que esse governo faz de zerar imposto para a importação para trazer de fora carros elétricos e ônibus que poderiam ser produzidos aqui gerando empregos.”
Procurada, a Volkswagen emitiu comunicado por meio de sua assessoria de imprensa: “A Volkswagen do Brasil informa que adotará novas medidas de flexibilização da mão de obra na unidade de São Bernardo do Campo, previstas em Acordo Coletivo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, durante o mês de julho, em razão da falta de componentes”.