Apenas o segmento de fretamento deverá continuar no vermelho
São Paulo – Passada a tormenta, que se estendeu por dois anos, o setor de ônibus parece começar a tomar fôlego na tentativa de recuperar o tempo perdido. Algumas operadoras naufragaram, muitas passaram por maus bocados, com pedido de recuperação judicial, e as que sobreviveram, a partir de meados do ano passado começaram a enxergar um horizonte.
Segundo Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz, o período entre 2020 e 2021 foi o mais desafiador da história para o segmento de ônibus, pois quem sustenta o sistema de transporte público são os passageiros que, se estão em casa, não geram receita.
“2022 é um ano de virada de chave, com muito mais oportunidades do que desafios. Diante do aumento do índice de vacinação no País, de 87%, boa parte do transporte foi retomada, mas não 100%, pois muitas empresas mantiveram o home office ou sistema híbrido, caso da própria Mercedes-Benz.”
Barbosa assinalou que o fato de o ano ser eleitoral ajuda, pois aumenta a demanda por veículos para a renovação de frota. Além disso, diante do crescimento desenfreado de preços nos últimos tempos, como o disparo de 125% no custo do aço e de 100% do diesel de janeiro de 2021 para cá, o que os operadores mais buscam é por custo mais acessível. Ou seja, a maioria deve antecipar as compras a fim de garantir modelos Euro 5.
Embora percalços com a cadeia logística persistam – a Mercedes-Benz vem sofrendo bastante com a escassez de semicondutores desde o início do ano e durante a primeira quinzena de julho reduziu a produção pela metade por causa da falta de chips –, o executivo afirmou que o mercado está reagindo, e a expectativa é que as vendas alcancem 21 mil unidades.
“Se tudo der certo e os desafios da produção forem controlados, acredito que chegaremos perto disso e conseguiremos recuperar parte do que perdemos ao empatar com 2019. O mercado está forte. Se não der e as dificuldades forem mantidas, ficaremos na projeção da Anfavea de 17 mil veículos. Não acredito que há risco de ficar em 13,9 mil unidades como em 2021, só se o cenário ficar caótico e realmente não houver peças.”
Ele afirmou que a companhia está conseguindo obter lotes de componentes e, como no acumulado até junho ampliou sua participação média no mercado de 38,3% nos seis primeiros meses do ano passado para 50,1%, a tendência é conseguir aumentar as entregas.
A maior presença da Mercedes-Benz está no segmento rodoviário, com 75% de market share. Na sequência, detém 72% no urbano, 43,5% no fretamento, 39,6% no micro-ônibus e 30,6% no escolar – o único que não lidera, segundo o executivo, porque o programa do governo federal sempre busca pelos menores preços.
No primeiro semestre foram emplacados 7 mil 297 veículos no Brasil e, apesar de ainda estar 2,6% abaixo do mesmo intervalo no ano passado, com 7 mil 493 unidades, Barbosa é otimista.
Desempenho por segmento – Para o Caminho da Escola a Mercedes-Benz realizará a entrega de 2,6 mil unidades dos 10 mil ônibus contratados pelo governo para atender áreas rurais.
“Entregamos agora a venda de janeiro. Devido ao descompasso completo pela falta de componentes as entregas estão atrasadas. Do total só 2,3 mil unidades foram entregues. Agora é correr contra o tempo para produzir. Se não for possível, as vendas terão de ser canceladas, pois a partir de 2023 terão de ser Euro 6.”
O segmento de micro-ônibus, para ele, é o que mais tende a crescer, pois atende o varejo, ou seja, compras de cinco a dez carros por CNPJ de até R$ 5 milhões. O diretor destacou a forte parceria com a encarroçadora Volare. Na outra ponta, o setor que mais se destacou na pandemia, o de fretamento, deverá ser o único a ficar no vermelho este ano, uma vez que agora não é mais preciso distanciamento social.
O urbano deverá ser impulsionado pelas eleições e antecipação de compras e, o rodoviário, pelos custos elevados da malha aérea e pela entrada de seis ou sete novas empresas com a oferta de serviços on demand.