São Paulo – A complicada situação econômica e política argentina foi o tema da participação de Dante Sica, consultor especializado na indústria automotiva da Abeceb, uma empresa de consultoria da Argentina, no encerramento, na sexta-feira, 19, do 4º Congresso Latino-Americano de Negócios da Indústria Automotiva, organizado pela AutoData Editora. A inflação no país vizinho deverá bater na casa dos 90% e a economia desacelera, podendo chegar a uma recessão, na avaliação do consultor.
Ele disse que, além desses problema, há um agravamento na pobreza do país e falta de confiança da população na classe política. Ainda assim o mercado de veículos se mantém resiliente, embora em níveis abaixo da metade de seu recorde histórico, quando chegou próximo a 900 mil unidades.
“Este ano as vendas ficarão em torno de 400 mil veículos. É pouco, e com diferença de perfil, porque as importações diminuíram por causa das restrições de acesso ao dólar. Os importados chegaram a representar 70% das vendas, hoje está quase meio a meio com os nacionais”.
Segundo o consultor os argentinos buscam nos automóveis uma forma de proteção à inflação. Não há um mercado de capitais forte e o sistema bancário não é atrativo e, quando há inflação, os argentinos correm em busca de dólar ou de bens duráveis, como os veículos. Isso explica, em parte, a manutenção dos volumes a despeito da situação econômica desfavorável.
Não está fácil também a vida das fabricantes, que, além das dificuldades globais como o descompasso da cadeia, crise logística e falta de semicondutores, sofrem com difícil acesso ao dólar, que torna mais complicadas as importações – que são necessárias para produzir os veículos.
Em resumo, para o Brasil está difícil comprar e vender veículos para a Argentina, nada mais nada menos do que seu principal parceiro comercial no setor automotivo. Sica aconselhou: os brasileiros devem buscar mercados alternativos para a exportação porque a situação no país não deverá melhorar tão cedo.
Ele demonstrou preocupação, também, com o setor de autopeças. Com a economia frágil investimentos em novos veículos pela indústria global estão deixando de fora a Argentina, o que prejudica, no longo prazo, os volumes da indústria fornecedora.
Sica ainda fez críticas ao Mercosul, bloco econômico que, na sua opinião, pouco faz comércio entre seus integrantes. “O comércio no Mercosul é ridículo, chega a algo em torno de 10% a 12%, enquanto na União Europeia e no Nafta fica na faixa dos 60%. É preciso integração maior para facilitar os acessos dos produtos de um país para o outro e isso esbarra em questões como legislação e conformidade. Temos que avançar nesse sentido para fortalecer o Mercosul”.