São Paulo — O preço dos automóveis e dos veículos comerciais elétricos não deverá recuar nos próximos anos, como esperado por parte da indústria automotiva. Essa é a visão de Sergio Habib, presidente da Jac, que atualmente opera apenas no segmento eletrificado no Brasil. Segundo ele alguns fatores ligados diretamente à produção desses veículos impedem o recuo de preço no curto prazo:
“O preço das baterias subiu muito por causa da alta nos custos com matéria-prima, como o lítio. Dessa forma o preço do carro elétrico continuará em expansão, pois a escala necessária para reduzir os custos de produção não virá pela limitação no fornecimento das baterias”.
A CATL, maior fabricante de baterias do mundo, fornecedora da Jac e de outras grandes empresas fabricantes de veículos, elevou o preço das suas baterias em 20% no começo do ano, com novo aumento de 10% no começo de agosto, fazendo com que todas as demais fornecedoras de baterias seguissem pelo mesmo caminho, de acordo com Habib.
Diante desse cenário ele sustentou que o mercado de automóveis elétricos no Brasil será pequeno e de nicho, por causa do alto custo para aquisição contra a baixa renda per capita da população. Para exemplificar Habib apresentou dados de vendas de automóveis elétricos de janeiro a julho, que somam 3,1 mil unidades, com a Volvo na liderança, Jac na segunda posição, BMW na terceira, Porsche em quarto e Audi em quinto lugar, todas elas empresas que operam os elétricos em nichos de mercado.
Habib acredita que, para grandes fabricantes, será mais difícil a operação nesse segmento no Brasil por causa do alto custo dos veículos na comparação com um similar com motor a combustão.
Outro exemplo usado pelo empresário foi a Europa, que mostra bom avanço dos automóveis elétricos apenas em alguns países, mesmo com incentivo de 7 mil euro para toda a região. França, Itália e Inglaterra possuem cerca de 13% de suas vendas anuais eletrificadas porque suas rendas per capita são altas, 45 mil euro. Na Polônia, com renda anual por morador de 18 mil euro, as vendas de elétricos representam apenas 1% por ano: “Um dia os legisladores europeus perceberão o que estão fazendo. Eles criam novas regras, caso da eletrificação, mas não olham para tudo que isso envolve”.
Para Habib isso poderá trazer um sério problema de mobilidade na Europa em meados de 2035 porque parte da população não terá renda para aquisição de elétricos.
Veículos comerciais no Brasil — Nesse segmento Habib acredita que o avanço também acontecerá em alguns nichos de mercado, caso da distribuição urbana, com forte demandas das empresas que precisam atingir metas globais de redução de CO2. Nesse caso, mesmo que o investimento seja maior e o tempo de retorno idem, porque os veículos circulam menos do que o necessário para justificar o investimento, os negócios deverão avançar impulsionados pelas demandas ligadas ao meio ambiente.