Tema foi debatido no Seminário AutoData Brasil Elétrico+ESG
São Paulo — “O tema da descarbonização veio para ficar e todos os setores vão passar por uma transição, especialmente alguns como o automotivo”, afirmou Nelmara Arbex, sócia especialista em ESG da KPMG, durante o primeiro dia do Seminário Brasil Elétrico + ESG realizado pela AutoData Editora, de forma online, em 29 e 30 de novembro.
Ela lembrou que a despeito do Brasil, que desde os anos 1970 possui o programa do etanol, a Europa vem anunciando há uma década essa mudança, tanto que já colocou data para parar de licenciar veículos com motores à combustão: 2035.
Guardadas as peculiaridades de cada localidade, o caminho para zerar as emissões de CO2 traz desafios a todos, ponderou Arbex. Até 2025 o Brasil se comprometeu a reduzir os gases de efeito estufa em 37%, tendo como referência os níveis do ano de 2005. Porcentual que será ampliado a 50% em 2030. Os setores prioritários da legislação da transição no País são os de transportes interestaduais, urbanos e internacionais de carga.
Adicionalmente, as mudanças impactam também os empregos. Por um lado, a robotização e a digitalização, entre outras otimizações, ampliam o desemprego. Mas do ponto de vista do ESG macroeconômico a transição vai gerar outros postos de trabalho:
“Precisaremos de muito mais gente que entenda como adaptar um edifício inteiro para que seja abastecido com energia renovável ou que descubra como se produz eletricidade em todos os corredores de água”, exemplificou a especialista, que é física de formação.
Esse movimento vai propiciar o surgimento de novas profissões com a demanda de pessoas para trabalharem com economias de baixo carbono, circular, regenerativa dos ecossistemas e inclusiva, citou. “A agenda como um todo é promissora para o desenvolvimento, mas, por se tratar de uma transição, tem disrupções. Algumas cidades na Alemanha levaram vinte anos para fechar as minas de carvão e geradoras de energia com base nuclear.”
Esse período de adaptação é carregado de discussões sobre como preparar a próxima geração de trabalhadores para servir as demandas que se imagina que irão existir, ao mesmo tempo em que é preciso pensar também como manter esses profissionais incluídos socialmente.
“A Idade da Pedra não terminou por falta de pedra. Encontramos outras tecnologias e começamos a aprender outras habilidades para mover a história da humanidade para frente. E estamos em um momento desses.”
Patente – Nesse contexto do surgimento de novas tecnologias algumas soluções podem contribuir significativamente com a redução de emissões sem, necessariamente, inviabilizar o que já vem sendo feito.
Ao menos essa é a proposta de uma empresa uruguaia, a ESF Río de La Plata, ao patentear a tecnologia de um filtro ativo para carbono e hidrocarbonetos que, a partir do processo de eletrossíntese, promete neutralizar gases CO2.
O diretor da LMG Consulting, Carlos Lamega, entrou na história na tentativa de tornar a solução viável e conseguir com que ela saia do papel e possa ser produzida em larga escala, com efetiva implementação nos próximos cinco ou dez anos.
“Essa tecnologia, chamada de ciclo Accossato em homenagem ao seu criador, Sebastian Accossato, um argentino de 47 anos e CEO da ESF, pode ser aplicada em motores a diesel e a gasolina. A proposta é que a emissão de CO2 seja reduzida em mais de 90% e, no caso de motores Euro 5, esse porcentual vai a 99%.”
O custo, segundo Lamega, é muito baixo se comparado aos dispositivos que vão no Euro 6. “Pode ser uma tecnologia que substitua o Euro 6 e que reduza os custos dessa adaptação, que encareceu, em média em 15%, os preços dos veículos. Acreditamos que o motor a combustão ainda é competitivo, e não o vilão.”
Lamega contou que sua consultoria está apresentando a solução para três montadoras, duas de veículos leves e uma de caminhões, além de duas sistemistas globais:
“Acredito que ainda no primeiro trimestre tenhamos uma resposta. E até o fim de 2023 o início da produção desses componentes, que pode acontecer, simultaneamente, em cinco plataformas no mundo”.