São Paulo – Com a premissa de realizar o treinamento de empregados recém-contratados fora do ambiente produtivo a fim de não interromper o funcionamento das máquinas e evitar riscos aos profissionais novatos, a DXC Technology, cuja sede latino-americana está em São Bernardo do Campo, SP, desenvolveu para a Bridgestone um sistema exclusivo de realidade virtual.
Em operação desde abril de 2022 nas unidades de Santo André, SP, e Camaçari, BA, nesse período de quase um ano foi notada redução no tempo total de treinamento, somados os aprendizados teórico e prático, de 17%. Quando considerada apenas a parte prática, o que inclui a diminuição no uso do equipamento, o porcentual chegou a 30%.
Embora não tenha citado valores acerca do impacto que a realidade virtual trouxe ao seu caixa, nem o investimento aportado na tecnologia, a Bridgestone afirmou que o próximo passo é exportar a solução para as suas fábricas latino-americanas situadas na Argentina, no México e na Costa Rica. Também está no radar agregar módulos de manutenção à plataforma.
A ferramenta treina até três operadores por vez, revezando-os com a coordenação de um instrutor, que alterna o aprendizado com o simulador e a visualização do processo na prática. O número de pessoas que aprendem simultaneamente, no entanto, varia de acordo com a quantidade disponível de óculos.
De acordo com Ricardo Ferreira, vice-presidente e diretor geral da DXC Technology para a América Latina, “ao trazer a tecnologia para o ambiente industrial nós buscamos também atrair os mais jovens e agregar valor ao negócio, assim como ampliar a retenção profissional”.
Ferreira ponderou que o chão de fábrica muitas vezes é um espaço hostil, e que como a máquina é a propriedade intelectual do cliente, faz parte do papel da DXC garantir a segurança da atividade. Sem contar que para manter a produtividade do equipamento, sem interrupções, é importante deixá-lo disponível para o ofício.
“Além disso o ambiente fabril tem alto risco de periculosidade por causa do corte da borracha quente. Sem falar no desperdício do insumo para fazer o treinamento in loco.”
Plataforma simula situações reais
Para desenvolver a solução Ferreira trouxe dois parceiros: a Dassault Systems, que criou a plataforma em 3D, e a Virtual Plant, que fez a digitalização da máquina a ser operada, como se fosse um scanner do equipamento.
Foram criados então cenários de testes capazes de transportar o treinamento da fábrica para o escritório. Por meio de equipamentos de realidade virtual é possível ver o operário pegando a faca e cortando o excesso de borracha, exemplificou Ferreira. Essa e outras situações do dia a dia do ofício são simuladas por meio da solução:
“É como se eles entrassem em um ambiente animado. Como no caso de um simulador de voo, em que se entra numa cabine e se tem a sensação real de que se está voando”.
A segurança do trabalho também é testada, citou o executivo, uma vez que há alarmes que disparam quando há algum risco, seja com relação ao calor, com o uso de ferramenta inadequada ou com o manuseio da máquina.
Se a borracha enrosca no equipamento o funcionário aprende como solucionar a encrenca e, da mesma maneira, são treinadas formas de se evitar essas situações: “Queremos mostrar que o mundo virtual é real”.
Expansão para outras áreas industriais
Ferreira assinalou que, embora a solução tenha sido desenhada sob medida o conceito não muda e, portanto, é aplicável a outros clientes industriais:
“No ambiente fabril ainda há certo desconforto por receio de a tecnologia gerar perda de emprego, mas mostramos que, ao contrário, é possível trazer mais qualidade ao otimizar o trabalho, ampliar a produtividade e a segurança dos profissionais, além de evitar gastos desnecessários”.
Ele contou que a DXC agora está trabalhando também com metaverso, para realizar reparos à distância. Por exemplo: se é preciso consertar uma peça que está travando todo o funcionamento da máquina mas a pessoa responsável está no Japão, ela pode operar o equipamento de lá ou dar as diretrizes e acompanhar em tempo real: “Trata-se de algo disruptivo”.
A companhia estadunidense DXC Technology emprega, globalmente, 130 mil funcionários. Na América Latina são 10 mil profissionais, sendo 4,5 mil no Brasil.
Segundo Ferreira o crescimento anual tem sido de dois dígitos desde 2017, quando foi criada. Sua origem está na EDS, que por mais de seis décadas operou em São Caetano do Sul, SP, até ser adquirida pelo braço de serviços da HP, que há cerca de seis anos se fundiu com a CSC e deu origem à DXC.