São Paulo – O etanol é um tema muito importante quando é discutida a necessidade de descarbonização no mundo. E ainda, um combustível aliado à eletrificação e uma alternativa como fonte renovável. O painel O Papel e o Futuro do Etanol, durante o Seminário Megatendências 2023 – O Novo Brasil, organizado pela AutoData Editora, reuniu Ricardo Abreu, consultor sênior em mobilidade sustentável da Unica, que moderou o debate junto com Ângela Costa, superintendente de derivados de petróleo e biocombustíveis da EPE, Empresa de Pesquisa Energética, e Gonçalo Pereira, professor da Unicamp.
Para Ângela Costa o etanol foi e continua sendo relevante na matriz energética brasileira, 17% dela formada por derivados da cana, e relevante tanto no fornecimento de energia como também no conceito da biorrefinaria.
Pereira, docente da Unicamp, acredita que o etanol merecia ganhar mais inteligência para ficar ainda mais eficiente, até como combustão pura. Ao comparar o motor a etanol com o elétrico ele questionou: “O motor elétrico é mais eficiente do que o motor a combustão. O problema do carro elétrico não é seu motor, mas de onde vem sua energia. Já o motor a etanol, gerando energia para alimentar uma pequena bateria, aí sim, faz muito sentido”.
Ele propõe a que a hibridização seja o melhor dos mundos: “O etanol é só a ponta de uma cadeia extraordinária. A eletrificação é o futuro do planeta. O Brasil tinha que ter isso como uma obsessão e criar o Proálcool Elétrico”.
Nesta direção Abreu disse que fica estranho ter de defender uma solução quando o certo é combinar soluções. Ele cita a combinação da tração elétrica com a geração de energia a bordo, usando o etanol, de baixo carbono: “Temos uma solução que muitos consideram como transição, mas para mim é a opção”.
E há muita oferta, segundo os estudos da EPE. O etanol já está em todos os postos de abastecimento, diferente da infraestrutura da recarga do carro elétrico, lembrou Costa: “Temos potencial para deslocar o diesel e a gasolina consumidos no Brasil com plena certeza. Vimos grandes mudanças no setor de etanol em pouco tempo”.
“É preciso tomar uma decisão: queremos importar um problema ou exportar uma solução?”, questionou Gonçalo Pereira. Esta é, para ele, a pergunta central, que permeia toda a cadeia desde a área agrícola até a indústria: “A oportunidade que temos hoje com a reindustrialização do Brasil é por meio da bioenergia. Este é nosso destino”.
O professor da Unicamp ressaltou que o sertão é um oásis do sol, e que com inteligência é possível captar essa energia solar, que é a única que movimenta o planeta, e convertê-la em biomassa: “Agora, com conhecimento, podemos produzir no sertão o agave com a produtividade da cana de açúcar, em uma área muito mais barata do que em Ribeirão Preto”.
A bioenergia também representa a geração de empregos. Pereira fez um cálculo raso: cada emprego gerado em uma empresa na área fóssil corresponde a cinquenta na mesma companhia em área renovável.
“Viveremos uma brutal crise de desemprego, sem precedentes, enquanto usamos um remédio antigo para uma doença nova. O Brasil tem o maior número de doutores desempregados no mundo. Não estamos conseguindo usar nossa inteligência no setor produtivo. Sem industrialização não haverá emprego. Olha o que aconteceu com a Ford! Temos ouro no Brasil, na forma de biocombustível. Temos que criar uma cadeia de industrialização baseada nisso!”