Veículo elétrico, que também terá motor híbrido, está sendo analisado pela NASA
São Paulo – Imagine fazer o trajeto de Jundiaí, no Interior paulista, ao centro financeiro de São Paulo, na avenida Faria Lima, em apenas 20 minutos, 10% do tempo que demoraria de carro, a depender do trânsito. Ou tomar um café ou chocolate quente e respirar o ar puro da serra da Mantiqueira em Monte Verde, MG, em 30 minutos, em vez de duas horas e meia, partindo de São Paulo. É a proposta do carro voador projetado pela Aska, startup estadunidense que mira os serviços públicos, o transporte compartilhado e a classe média – embora seus primeiros clientes devam ser bilionários que já realizaram pré-reservas.
Até 2026 a meta do CEO e co-fundador da Aska, Guy Kaplinsky, é deixar o produto disponível no mercado. Seu eVTOL, além de voar, poderá transitar por vias públicas e estradas: ainda é, segundo ele, o único com esta proposta. Com capacidade para quatro passageiros e autonomia de 400 quilômetros concedida pelo motor elétrico, o veículo também possui um motor a etanol: “Trata-se da primeira aeronave movida a duas fontes de energia. No ar alcança velocidade de até 240 km/h”.
Batizado como Aska A5 o carro voador está em testes e já tem percorrido estradas. Agora aguarda a certificação que autorizará o veículo a circular no ar. A figura do piloto também está sendo discutida, pois é cogitada a condução autônoma. O executivo citou que o governo dos Estados Unidos está levando a sério esta mobilidade, o que deve contribuir com a celeridade do processo:
“Estamos trabalhando com a NASA e também contamos com a colaboração da FAA [Administração Federal de Aviação, agência governamental que regula todos os aspectos de aviação civil no país]. Eles nos dizem que cabe a nós inovar e, a eles, garantir que se trata de algo seguro”.
Durante apresentação no evento Think Mobility, realizado pelo Google e que reuniu representantes do setor automotivo, Kaplinsky refletiu, durante sua primeira passagem pelo Brasil, que parece que a aviação está muito distante de nós, só que não. E que quando pensamos em meios de transporte o ponto mais crítico está nos gastos com infraestrutura. Por isto, quando criou a Aska, propôs que este custo fosse zero, a fim de que se use o que está disponível.
“A solução foi criar um veículo que dirige e voa, com decolagem e pouso vertical, o que permite que ele seja utilizado como espécie de Uber, e adotado, inclusive, na última milha, assim como em serviços públicos.”
Postos de combustível cederão lugar a pistas de pouso
Uma das partes mais importantes para cumprir com a proposta de ser um veículo acessível à classe média e operar também por aplicativo de transporte, de acordo com o CEO da Aska, é haver vários pontos de pouso.
“Pousar em cima de um prédio é perigoso. Além do que, se houver grande fluxo de pessoas, em torno de cem por dia, não há edifício que comporte. Hoje há uma média de dois ou três pousos de helicópteros por dia, para efeito de comparação. É preciso, portanto, construir ou, preferencialmente, reaproveitar espaços já existentes.”
Nos Estados Unidos estes pontos de pouso serão estabelecidos nos postos de combustíveis que, diante do avanço da eletrificação, serão convertidos para esta nova utilidade, estima o empresário. Até porque, segundo Kaplinsky, alguns desses locais tenderão a desaparecer com o passar do tempo: “Cerca de 25 m² são suficientes para pousar o eVTOL”.
Esta proposta elimina o deslocamento até aeroportos, o que tiraria parte da vantagem na economia de tempo – e até dinheiro, pois o processo todo seria mais custoso: “Dispor de vários lugares de pouso é elemento-chave para o sucesso do carro voador”.
Setor automotivo será vetor para popularizar veículo
A proposta de Guy Kaplinsky é que as companhias do setor automotivo ajudem no processo de popularização do veículo e a exportar a ideia para o resto do mundo, inclusive o Brasil. A startup oferecerá treinamentos, que denoram de dois a três meses, e pretende tornar viável o aluguel de carros voadores para motoristas de aplicativo.
Fundada em 2018 a Aska possui uma fábrica em Mountain View, na Califórnia. O carro voador utiliza fibra de carbono em sua estrutura e a empresa é quem produz seus próprios motores e baterias, à exceção das células, que são compradas. Com alta tecnologia embarcada o carro voador possui dispositivo de internet das coisas, é amplamente conectado.
“Não precisamos de um carro de luxo, mas de um veículo seguro e que voe. Ele possui um gerador que garante 30 minutos de energia reserva e também conta com pára-quedas.”
Kaplinsky vislumbra que tudo isso chegará à indústria automotiva em até dez anos. Mas pondera que, no fim das contas, tudo dependerá da demanda, que será a responsável por acelerar a disseminação do eVTOL. Após 2030 a ideia é que ele tenha autonomia completa no ar. A próxima geração do carro voador já está no radar, e terá motores nas rodas, o que permitirá decolagem em menos de 5 segundos.
Como nasceu a ideia do carro voador
Israelense, Guy Kaplinsky disse que o trânsito em sua terra natal é muito semelhante aos congestionamentos daqui. E que, de tanto passar tempo no trajeto para o emprego, o sonho em comum é morar próximo ao local de trabalho, demanda que eleva os preços das casas e apartamentos e torna inviável a mudança. Casado com uma japonesa ele morou um tempo no Japão, onde também passava horas no trem para ir de um lugar a outro.
“É assim em Israel, no Brasil, nos Estados Unidos, no Japão. São pessoas que gastam um ano de suas vidas no trânsito ou no trem. Então pensei: há tantas oportunidades no transporte, vamos tornar possível ao menos uma delas para que as pessoas reduzam tempo de vida gasto no trânsito.”
Por isto ele argumenta que, para a megalópole São Paulo, a solução se encaixa perfeitamente pois há pouco espaço disponível e muita gente para ser transportada: “O ideal é dirigir e voar. Já perdemos algumas inovações para a Tesla e para os chineses, como os mercados de drones e de carros elétricos. Mas esta nós não perderemos”.