Goiânia, GO – Ao trabalhar no topo de sua capacidade de 240 mil unidades/ano, em três turnos corridos que mandam algo como novecentos veículos por dia para concessionários Jeep, Fiat e Ram, a fábrica da Stellantis em Goiana, PE, quer elevar dos atuais cinquenta para cem o número de fornecedores próximos, considerando os estados de Pernambuco, Paraíba e Bahia.
Antonio Filosa, presidente da Stellantis América do Sul, na quinta-feira, 19, conversou com jornalistas antes da inauguração de uma concessionária de picapes Ram em Goiânia, GO. Ele previu que a evolução do polo automotivo do Nordeste pode ser completada ao longo dos próximos cinco anos com a geração de aproximadamente 100 mil empregos na cadeia da região: “Quando chegarmos lá poderemos ser competitivos sem precisar de incentivos fiscais”.
Neste sentido Filosa avalia que o investimento da BYD em Camaçari, BA, onde pretende ocupar as instalações que a Ford abandonou em 2021, deve acelerar o processo de localização de componentes na região: “Ficamos felizes com a chegada da BYD e tristes com a saída da Ford, porque isto prejudicou a cadeia produtiva regional, fornecedores e engenheiros foram embora e isto dificultou nossa vida também. Do ponto de vista industrial é perfeito que mais um fabricante de veículos venha para o Nordeste, é bom para a indústria reduzir custos com compras locais, o que nos torna mais competitivos. E é bom para o País, federação e estados, porque aumenta a arrecadação e melhora os serviços públicos”.
Para a criação de uma cadeia produtiva regional robusta o executivo propôs a concessão de incentivos fiscais. Ele destacou que no caso da Stellantis em Pernambuco, segundo estudo da consultoria Ceplan, para cada R$ 1 de incentivo recebido houve retorno de R$ 5 em impostos recolhidos e em geração de riqueza, com sensível melhoria dos serviços públicos, educação e saúde (leia aqui).
No início de julho, quando o texto da reforma tributária foi aprovado na Câmara dos Deputados, pouco antes da proposta seguir para análise do Senado foi suprimida emenda que estendia até 2032 a concessão de benefícios tributários federais tanto para a Stellantis como para a nova entrante BYD.
Com isto, se os senadores não incluírem esta emenda novamente no texto da reforma, os incentivos federais do Regime Nordeste estarão extintos em 2025: “Será possível produzir sem incentivos de forma competitiva quando conseguirmos formar a cadeia regional com mais de cem fornecedores e forem completadas as necessárias obras de infraestrutura, principalmente o anel viário de Recife e a telefonia 5G. Mas isto certamente não acontecerá até 2025”.
O executivo disse ser favorável à reforma tributária em discussão no Congresso, que classifica como “necessária para dar mais competitividade à indústria nacional, pois no formato atual os tributos prejudicam a agregação de valor” da atividade industrial: “Com a reforma reteremos um sistema mais alinhado às melhores práticas do mundo, mas precisamos ter visibilidade das regras para nos adaptarmos sem perdas.”