Imóvel da Avenida Indianópolis foi vendido a uma incorporadora
São Paulo – Quarenta e oito anos depois as decisões mais importantes dos rumos da indústria automotiva nacional não serão mais tomadas na casa que ocupa o número 496 da avenida Indianópolis, na Capital de São Paulo, também dotada de endereço na alameda dos Nhambiquaras. A Anfavea mudará de sede.
Localizado em região com forte avanço do setor imobiliário, onde muitas casas estão indo abaixo para dar lugar a prédios – como o quase vizinho Buffet Colonial, que por diversas vezes sediou entrevistas coletivas e outras celebrações da entidade –, o imóvel que abriga a Anfavea desde 1975, comprado por Mário Bernardo Garnero, foi vendido para uma incorporadora.
A associação das fabricantes de veículos, agora, terá nova sede: acertou na quinta-feira, 14, a compra de um imóvel na avenida Luiz Carlos Berrini, 105, no quarto andar do condomínio Berrini One. O local tem história na indústria automotiva: foi sede da FCA antes da fusão com a PSA e criação da Stellantis.
História
Quando a Anfavea decidiu deixar escritórios no Conjunto Nacional, em plena avenida Paulista, fugia de trânsito caótico em busca de sossego quase que interiorano. Aquelas franjas de Moema separadas pela avenida Indianópolis pareciam ser um bom caminho: fácil de correr para o aeroporto de Congonhas, fácil para fugir para a Região do ABCD, onde estava instalada boa parte das empresas associadas. Com acesso à avenida 23 de Maio rumo ao Centro, ao Centro Novo, ao Centro expandido, ao Terraço Itália, ao Buck’s Clube. No sentido contrário o restaurante Massimo, predileto de dez em cada dez dos executivos da entidade, era alcançado em menos de 20 minutos.
Machadinho, dublê de garçon e de motorista de táxi, tinha tudo para ser diferente do tradutor Waldemar Heinrich, antigo diretor da Frigidaire que dividia seu trabalho pelas comissões internas da Anfavea. Um fazia o próprio café que servia e outro chegava, todo dia, pouquinho antes das 9 da manhã, vestindo capacete de couro das antigas e estacionava sua moto debaixo de árvore perto da piscina. Um era dono de humor desconcertante e o outro era a gentileza em pessoa. Estas duas personalidades sintetizam as lembranças do diretor de AutoData, Vicente Alessi, filho, daquele espaço, onde trabalhou por pouco mais de dois anos.
Pois a sede da entidade tinha uma piscina, que viera junto com a casa nova e a promessa de nunca ser usada. No fim dos anos 1980 ainda se fazia as festas de fim de ano naquele espaço que perdera a piscina, aterrada por ordem de alguém temeroso de mau uso. A casa foi ampliada e reformada logo depois da gestão de Luiz Adelar Scheuer, 1992-1995, e ganhou mais espaço com a compra de casa vizinha, com porta para a Nhambiquaras. A inauguração daquele, digamos, complexo urbanístico, foi realizada na gestão de Silvano Valentino graças a Scheuer, que soube empregar o eterno dinheiro curto da entidade.
Antes, um bocado antes, desde 1977, aquele casarão de frente bonita costumava abrigar reuniões que não deveriam ser públicas, de diretores seus com representantes sindicais, por exemplo, num processo de conhecimento e, claro, de busca de camaradagem. Às vésperas da greve de 1978 e em busca de solução para o impasse instalado e com toda a imprensa brasileira na calçada mais de um representante sindical teve que pular o muro para poder participar de reunião.
São história que serão massacradas pelo bulldozer chamado mercado imobiliário.